terça-feira, 31 de maio de 2016

Curriculum Vitae

Há dias assim... ficamos a pensar no tempo que já passou, nos médicos que consultamos, nos exames e nos tratamentos que já fizemos, nos remédios que já tomamos e até no dinheiro que já gastamos. Pelo meio, vamos conhecendo outros casos como os nossos, outras histórias, outros diagnósticos, uns de sucesso, outros de insucesso.
E as dúvidas permanecem: será que alguma vez vou conseguir? E se conseguir, quando será? Quantos mais tratamentos terei que fazer? Quantos mais remédios terei que tomar? Quanto mais dinheiro terei que gastar? Quanto mais tempo terei que esperar? Até quando o meu corpo, a minha doença e as minhas finanças irão aguentar? E as minhas emoções?

Há dias em que não consigo deixar de pensar em todo o meu percurso (que infelizmente ainda não acabou) e que já podia ter um filho com 2 anos e meio. Sei que é estúpido da minha parte pensar assim, mas penso. E pergunto-me como seria se tivesse engravidado no primeiro ciclo de tentativas, como acontece com tantas mulheres, principalmente na minha idade! Como seria? Como estaria a minha vida com um filho de 30 meses? Já estaria a planear um segundo filho? Não sei. Mas estaria muito mais feliz e realizada de certeza! Às vezes acho que todo este processo me está a tornar uma pessoa mais amarga... e não gosto disso. Não gosto desta "Mia Amarga", azeda e ácida. E vocês: "Olha-me esta... tira-lhe o vinagre e deita-lhe açúcar que isso passa!" 

CURRICULUM VITAE

Nome: Mia Bella
Morada: Urbanização da Grande Guerra, 13. 1313 Armadura.
Contacto: babyprojectfiv.blogspot.com

Formação:
• Doutoramento em Endometriose Assanhada
• Pós-graduação em Síndrome do Folículo Vazio

Experiência:
• Fevereiro 2013: Início das tentativas. Sem sucesso.
• Novembro 2013: Suspeita de Endometriose.
• Dezembro 2013 - Março 2014: Tratamento com Dufine e Duphaston. Sem sucesso.
• Abril 2014: Histerossalpingografia. Trompas OK.
• Abril 2014: Ressonância Magnética. Diagnóstico de Endometriose profunda confirmado. Tumor no septo reto-vaginal, endometriomas nos dois ovários, focos infiltrativos no cólon sigmóide e várias aderências espalhadas no peritoneu.
• Maio e Junho 2014: Coito programado com Menopur, Pregnyl e Duphaston. Sem sucesso.
• Julho 2014: Ciclo "au naturel" para descansar o organismo.
• Agosto - Dezembro 2014: Pílula contínua (Mercilon).
• Dezembro 2014: Cirurgia laparoscópica: Todos os endometriomas, focos, aderências e tumor RV removido com sucesso.
• Dezembro 2014 - Fevereiro 2015: Tratamento com Decapeptyl 3.75.
• Março - Junho 2015: Tentativas "au naturel". Sem sucesso.
• Julho 2015: Visanne.
• Agosto - Outubro 2015: Tratamento com Lucrin depot 3.75 para preparação para FIV.
• Novembro 2015: Primeira FIV. Sem sucesso.
• Dezembro 2015 - Fevereiro 2016: Em modo "deprê" e modo "deixandarqueselixe".
• Março 2016: Histeroscopia diagnóstica. Tudo OK.
• Abril 2016: Segunda FIV (com microinjeção). Sem sucesso.
• Maio 2016: Pílula Denille.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Consulta Pós-FIV II

Depois de tantos dias de ansiedade, chegou finalmente o dia da consulta. E não é que a Mia acordou com vontade de fugir porque estava com medo de ir à dita consulta? Pois é, só me apetecia evaporar! Mas lá fui. Enjoada, com algumas cólicas típicas da minha ansiedade mas fui.
Chegamos ao consultório e fui de imediato preparar-me para eco. Enquanto me despia, olhei para a cadeira e mentalmente cumprimentei "Olá cadeira articulada! Cá estou eu mais uma vez".
O Dr. J. começa a fazer a eco e... "Está tudo bem. Impecável! Os ovários estão normais, tudo dieretinho." ALÍIIIIIIIIIIIIIIVIO! "Endométrio 5mm; normal; normal", ditou para a assistente. Parece que a diabólica da endometriose não me chateou muito, mesmo depois de um protocolo curto!
Depois da eco fomos conversar. Falamos de várias coisas: os tratamentos anteriores, protocolo num próximo tratamento, estudos científicos que estão a ser desenvolvidos por eles, vantagens e desvantagens de protocolos clássicos e protocolos alternativos, etc. Confesso que não me importava de ficar ali o dia inteiro a falar sobre os estudos existentes, estudos a serem desenvolvidos, conclusões, limitações dos mesmos, fármacos envolvidos, bem como os seus mecanismos de ação, efeitos e resultados, enfim... CIÊNCIA!

Mas resumindo:
Num próximo tratamento, iremos optar por um protocolo com uma abordagem um pouco mais alternativa. Será novamente um protocolo curto, com antagonista mas a injeção final para maturação ovocitária será um agonista. Ou seja, em vez do habitual pregnyl ou ovitrelle, utilizaremos o decapeptyl 36 horas antes da punção. Contudo, como este irá prejudicar a recetividade endometrial, teremos que fazer um reforço da fase lutea de modo a não diminuir as hipóteses de implantação do embrião. Para isso, iremos administrar o pregnyl no dia da punção. Para além disso, vamos também aumentar um bocadinho a dose de Gonal-f e provavelmente, adicionar LH em vez de estimular apenas com FSH. Ou seja, adicionar menopur ou pergoveris.

Como temos que dar um descanso ao organismo, o Dr. J. sugeriu fazer o tratamento lá para Setembro, uma vez que em Agosto fecham para férias. SETEMBRO?? 😲 Imediatamente soltei um dramático "Nãaaaaaaaaaaaaaao! Tanto tempo, não! Por favor!" 😣 Ele ficou a olhar para mim com um leve sorriso durante uns segundos... tipo aquele ar de quem está a pensar "Porra, não me digas que a miúda vai ter uma crise de histeria!"
"Pronto", respondeu. "Só se for em Julho então. É que em Agosto estamos de férias... sim, acho que é possível fazer em Julho". Não satisfeita, ainda perguntei "Tem mesmo mesmo mas mesmo que ser em Julho? Não pode ser um bocadinho antes?" Ao que ele respondeu "Não. Temos mesmo que dar esse intervalo para os ovários recuperarem bem."




Ok... eu sei que ele tem razão. Mas pronto, tentei. Pelo menos não será em Setembro! Céus! Dava-me uma coisa má!
Resta-me esperar ansiosamente pelo mês de Julho.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Endometriose destrói-nos


Eu até diria melhor: "A Endometriose destrói o corpo e rouba os sonhos".
Esta doença que é tão desvalorizada pela sociedade e até pela comunidade médica, atirou com o meu projeto de vida pelo cano abaixo. O meu projeto de vida... que é tão simples, tão banal e tão puro: ter filhos. Não é ser famosa, não é ser rica, não é ter uma carreira profissional brilhante ou dar a volta ao mundo. É simplesmente ser Mãe! Conhecer esse amor tão forte, tão puro e incondicional que para a maioria é tão simples e fácil, para mim é algo distante e inalcansável.

Vivo prisioneira no meu próprio corpo com um sonho trancado num baú.
Espero um dia conseguir encontrar a chave que abre esse baú...

terça-feira, 17 de maio de 2016

Síndrome do Folículo Vazio

Mas que porra é esta afinal?
Já revirei tudo na internet, li artigos, estudos científicos, pesquisei em fóruns e nada. Há muito pouca informação sobre este assunto. Não se sabe qual é a causa e muito menos a solução. No entanto, apontam-se apenas algumas hipóteses para a causa.
Do pouco que consegui encontrar, fiz um apanhado da informação.

A Síndrome do Folículo Vazio carateriza-se pela ausência de ovócitos no fluido folicular no momento da punção. Trata-se de um acontecimento raro, com incidência entre 0.5 e 7% dos ciclos de reprodução assistida.
Estima-se que haja uma hipótese de 20% de recorrência.

Entre as possíveis causas para SFV apontam-se as seguintes hipóteses:

1-Alterações na foliculogênese que possam provocar atresia folicular precoce ou alteração no desenvolvimento no ovócito.
2-Resposta insatisfatória à hcg exógena. Aqui, inclui-se a hipótese de anormalidade de alguns lotes do medicamento comercializado e a hipótese de metabolização hepática acelerada da hormona.
3-Causas genéticas. Uma mutação (N400S) em homozigotia do recetor de LH.

Possíveis soluções para o problema:
1-Após a punção folicular em que se verifique a ocorrência de SFV, administrar uma segunda dose de hcg e realizar nova punção após 24 horas.
2-Dar preferência à hcg recombinante (ovitrelle) em vez da hcg urinária (pregnyl) pela sua maior pureza e maior uniformidade nas concentrações.
3-Substituir o hcg pelo agonista GnRH (decapeptyl) para maturação ovocitária final, elevando os níveis séricos de gonadotrofinas endógenas, tal como acontece em ciclos naturais.

Importa salientar que o nome "folículo vazio" revela-se inadequado, uma vez que o problema demonstra resultar de distúrbios na maturação final dos ovócitos e não da sua ausência.

No meu caso, a primeira hipótese para a causa do problema está excluída, uma vez que os níveis de estradiol estão sempre compatíveis com a quantidade de folículos maduros. Portanto, e uma vez que já aconteceu o mesmo por duas vezes, ou tenho uma metabolização hepática acelerada do medicamento ou tenho a tal da mutação genética.
Quanto às possíveis soluções, e uma vez que já experimentei tanto a hcg recombinante como a hcg urinária, ou faço uma nova dose de hcg e nova punção, ou experimento o decapeptyl em vez do hcg. Digo eu que não percebo nada disto. Sei lá! Fazer uma nova punção não me parece uma boa solução, porque para além de isso aumentar muito a hipótese de Síndrome de Hiperestimulação Ovárica, nem quero imaginar os custos que uma segunda punção poderiam ter!
Não sei o que o médico me vai dizer ou propor relativamente a isto mas se a ciência não sabe, ele provavelmente também não saberá. Enfim... sou mesmo um bicho raro!

Que nervos que isto me causa! Detesto não ter respostas concretas! Às vezes apetece-me preparar um plano maquiavélico para raptar todos os cientistas e investigadores desta área, prende-los numa cave e obriga-los a descobrir a causa! Só os libertar, depois de descobrirem a causa e uma solução eficaz e adequada! MUHAHAHAHAHA! 😈

Vocês devem estar a pensar "Woooou! Esta Mia está louca!" Tenham calma, não se assustem com a minha insanidade mental. De vez em quando tenho uns breves surtos psicóticos mas rapidamente volto à lucidez. À fria e entediante lucidez.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Quando o cérebro não desliga

Por mais que eu tente não consigo parar de pensar no mesmo.
Porque motivo mais de metade dos meus folículos não contêm ovócitos para puncionar?
Porque motivo os poucos ovócitos que tenho não têm qualidade, sendo eu jovem? Uns degeneram, outros não fecundam, outros fecundam mal.
Porquê???
Já não chega ter endometriose?

Nunca mais chega dia 24! Preciso de respostas, preciso de explicações, e acima de tudo, preciso de soluções!
Preciso de saber como isto ficou por aqui. O que poderei fazer a seguir? Qual a estratégia para um próximo tratamento (se é que existe)? Quanto tempo terei que esperar até poder fazer a próxima FIV? Um ciclo de intervalo chega? Dois ciclos?
Custa-me estar à espera... à espera não sei bem do quê. Só queria ouvir que há solução, que posso começar outra tentativa brevemente.

Entretanto, e porque preciso de sentir que estou a fazer algo para contribuir positivamente, comecei a tomar coenzima q10, 1 cápsula de 120mg por dia e vitamina D.
Li no site do IPGO que a coenzima q10 melhora a qualidade dos óvulos, as taxas de fertilização e contribui para a formação de blastocistos. Se resulta? Sei lá! Não faço ideia. Se está comprovado cientificamente? Ainda não. Mas se há alguns estudos científicos que apontam nesse sentido, porque não experimentar? Afinal de contas, neste momento não tenho nada a perder, a não ser uns euros. Mas o que são 29 euros no meio de uns milhares? Por isso, venha a coenzima q10.
A carência de vitamina D, segundo o IPGO, pode contibuir, entre outros, para problemas de fertilidade. E ao que parece mais de metade da população mundial tem carência desta vitamina e nem sabe! Apesar de estar a tomar um suplemento, bonito bonito era o sol vir para ficar porque este sim, é a maior e mais eficaz (e mais barata também) fonte de vitamina D.
Sol, vê lá se contribuis! Nuvens negras, vão de férias para outro sítio, se faz favor.

Para o caso de quererem consultar, deixo aqui o link sobre este assunto.
http://www.ipgo.com.br/novos-tratamentos-melhoram-a-fertilidade-da-mulher/



sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sexta-feira 13

Diz-se por aí que a sexta-feira 13 é um dia de azar. As bruxas saem à rua e os demónios assombram as pessoas.
Inspirada no Halloween americano, em Montalegre celebra-se este dia de azar, com decoração e vestimentas a rigor: chapéus altos e ponteagudos, gatos pretos, morcegos e caldeirões.
Que engraçado, não é? Estava a pensar em "entrar no espírito" e celebrar a sexta-feira 13 vestida a rigor. Pensei em disfarçar-me, sei lá... de endometriose. E andar por aí a atormentar pessoas. O que acham?
Muhahahahaha


sábado, 7 de maio de 2016

Tenho um demónio dentro de mim

No passado dia 2 terminei o protocolo com a análise beta hcg. Digo-vos, fazer esta análise, sabendo que o resultado será negativo é duro, muito duro. Nem sei como tive força para ir ao laboratório. No final do dia, recebo via e-mail um resultado de 2 mUI/mL, confirmando o teste de farmácia negativo no dia 29. Umas horas depois chegou o Hellboy e desta vez veio cheio de armas para me atacar.
Dores, dores e mais dores... Voltei ao tramal mas quase não fez efeito.
Odeio-te Hellboy! Odeio-te com todas as minhas forças!

Tenho um demónio dentro de mim. Um demónio que cresce sem parar e destrói o meu corpo. Um demónio que se alimenta das minhas derrotas e me rouba os sonhos. Esse demónio tem nome e chama-se Endometriose.