quarta-feira, 20 de julho de 2016

3ª FIV: Pós-Transferência

Hoje é o dia 4 após a transferência e já tenho o coração apertado.
Tendo em conta que transferi embriões com 5 dias, hoje seria o 9° DPO num ciclo normal. E como sempre, a partir do 8° DPO aparecem as pontadinhas no fundo da barriga, ora de um lado, ora do outro. Sempre iguais, sempre na mesma altura. SEMPRE! Seja em ciclo normal, seja em ciclo de FIV.
Porquê? Porque é que têm de aparecer sempre? O que as provoca? Não sei... só sei que são assustadoras e por isso odeio-as.

Sintomas pós-transferência:
D1 - peito dorido e muita retenção urinária.
D2 - peito dorido e alguma retenção urinária.
D3 - peito dorido, pressão nos ovários e pontadas no fundo da barriga.
D4 - peito dorido e pontadas no fundo da barriga.

Tenho tentado manter-me positiva e pensar que desta vez é diferente.
Consegui transferir embriões de 5 dias em estado de blastocisto, um deles expandido. Sei que a taxa de implantação de blastocistos expandidos é alta. O prognóstico é bom. Não é? Mas as pontadinhas estão a atormentar-me! Tenho sido assombrada por pensamentos maus, por recordações más.
Começo a sentir uma angústia que me provoca um nó na garganta.

                          O dia-a-dia do embrião após transferência ao 5° dia
                                    https://vidinhamia.wordpress.com/tag/icsi2/

O dia 5 corresponde ao dia da transferência.
Portanto, se tudo estiver a correr bem, por esta altura, a implantação já está completa. Isso significa que, das duas uma: ou estou grávida ou está tudo perdido.
Quero muito acreditar na primeira hipótese!
Quero muito chegar a dia 28 e saber que altos níveis de hormona coriónica humana circulam no meu sangue! E por falar em sangue, não quero ver vestígios de tal coisa fora do meu corpo nas próximas 37 semanas da minha vida!
Quero que estas pontadas que me atormentam há 3 anos desapareçam e que o meu coração acalme! E já agora, o meu cérebro também!

Hellboy, não te atrevas a aparecer! Deixa-me em paz!

domingo, 17 de julho de 2016

3ª FIV: Transferência

E finalmente ontem de manhã fui buscar os meus filhotes!
Ficamos a saber que tinhamos 2 blastocistos, um expandido e outro inicial. Infelizmente, os outros manos não resistiram.
O Dr. J. quis ver como estavam os ovários antes de fazer a transferência, uma vez que havia aquele risco de desenvolver Síndrome de Hiperestimulação Ovárica. Felizmente, os ovários pareciam bem calminhos e estavam com tamanho normal.
"Pelo que vejo, não me parece que vá hiperestimular", disse o Dr. J. "Mas... estes ovários são uns traiçoeiros! Com estes dois nunca se sabe...", acrescentou.
Explicou-nos que mesmo lhe parecendo que o risco de SHO é baixo, normalmente nestas situações não arriscam transferir mais que um embrião. Contudo, como já contamos com duas falhas de implantação, se nós quisessemos, transferiria os dois. Mas alertou que, caso desenvolva SHO, a coisa seria mázinha. Se já o é em situações "normais", em mulheres com endometriose a coisa piora bastante! "E eu não queria nada que a Mia ficasse internada no hospital com um quadro destes." 😓
Ao ouvir isto, imaginei logo as dores insuportáveis que seriam. Mas respondi que estava disposta a correr esse risco para aumentar as nossas hipóteses.

O Dr. J. deu o OK para o biólogo trazer os nossos pequeninos. Enquanto preparava a transferência, o Dr. J. disse que queria que engravidasse e ia transferir os dois para aumentar as hipóteses mas esperava que não engravidasse de gémeos.
Pois... confesso que essa hipótese também me assusta um bocadinho. Até gostava de ter gémeos, acho bonito. Mas uma gravidez gemelar, por si só, já é mais arriscada. Em casos em que há risco de SHO pior ainda! Então com endometriose, a coisa pode parecer bem assustadora! Por isso, sim, tenho esse receio. Mas prefiro correr o risco de engravidar de gémeos do que não engravidar. Além disso, a probabilidade disso acontecer é baixa.

A transferência foi feita sem dificuldade. Vimos aquele pontinho luminoso a brilhar com os nossos pequeninos juntinhos. 😍
Apesar de um deles estar mais atrasadinho, estavamos felizes e com esperança! Nunca tinhamos chegado tão longe! Pela primeira vez conseguimos transferir dois embriões! E pela primeira vez conseguimos transferir blastocistos! Os nossos fortalhaços resistiram até ao 5° dia e já têm centenas de células e uma cavidade formada no interior, um deles já expandido.


Agora estou naqueles dias de repouso, a imaginar os meus pequeninos a crescer aqui no quentinho ❤
Por favor, não fujam! Fiquem na barriga da mamã!


quarta-feira, 13 de julho de 2016

3ª FIV: Fecundação

Tal como combinado, ontem, terça-feira dia 12, ligaram do laboratório para dar novidades sobre a fecundação. Desta vez, o marido não estava comigo e por isso não lhe pude "passar a pasta" e fugir como fiz da última vez.
Eram 10h31 quando o telemóvel tocou. Até dei um salto e deixei cair o telemóvel. Coração aos pulos e mãos a tremer! Atendi.
"Aim?" Foi o que me saiu! Limpei a garganta e repeti "Sim?"
Do outro lado, uma voz muito bem disposta informou que dos 10 ovócitos, 9 estavam maduros, desses 9, 7 fecundaram bem.
Não cabia em mim de contente! 9 maduros!!! 7 fecundaram! Nunca pensei! Fiquei parva!

Resumindo:
☆ 10 ovócitos obtidos na punção
☆ 9 maduros
☆ 7 fecundados


Respirei de alívio! Naquele dia pude ficar descansada.

Hoje, é o dia 2 dos embriões. Há medida que o tempo passava a ansiedade ia aumentando. Comecei a olhar para o relógio e reparei que já passava das 10h31. "Porque é que ainda não ligaram? Se estão a demorar é porque há más notícias.", pensei.
Eram 11h03 quando o telemóvel tocou. Nervos! Coração aos pulos e mãos a tremer novamente!
Os 7 embriões continuam lá... mas alguns estão mais fraquinhos. Temos 4 de qualidade B e 3 de qualidade C. Disse-me que num deles estavam com dúvidas se seria um B ou um C mas não me lembro se fazia parte do grupo dos 4 B's ou dos 3 C's. Recomendou repouso para os ovários recuperarem bem e que em princípio a transferência seria sexta-feira ou sábado.

Não fiquei contente. Continuo com 7 embriões, eu sei. Foi de longe o melhor resultado que consegui até hoje. Mas... no meio de 7 embriões tinha esperança que houvesse pelo menos um A. Pelo menos 1! Nunca consegui nenhum A. Quase toda a gente na minha idade consegue embriões de qualidade A. Preferia ter menos embriões mas ter A's.
Da última vez transferi um B e não deu em nada 😔
O marido tentou tranquilizar-me e disse que o Cristiano Ronaldo é um A e não ganhou o europeu sozinho. Foi o Éder, que é um D, que marcou golo e nos levou à vitória.
Hmmm...

Resta-nos aguardar...

3ª FIV: Punção

Antes de mais, SOMOS CAMPEÕES DA EUROPA!!!!!
Obrigada Seleção! Obrigada por esta forte emoção!
OBRIGADA! 😃😃😃
Foi Lindo! 💚💛❤



Bem, agora a punção.
Segunda-feira, dia 11 chegamos à clínica por volta das 8h10.
Como já é habitual, mandaram-me entrar para uma sala e preparar-me. Estava nervosa, angustiada, com medo! O simpático enfermeiro que me acompanhou perguntou no seu sotaque brasileiro "Tá nervosa? Ah não pode, não. Portugal ganhou!" Hehe 😄
Já com a bata sexy vestida fui para a sala da punção. O anestesista e o enfermeiro brasileiro faziam-me perguntas, riam e diziam piadas para me descontrair. Entrou o Dr. JB para fazer a punção super sorridente e cumprimentou-me com um forte aperto de mão. Administraram a anestesia e comecei a sentir o meu corpo dormente (já vos disse que adoro a sensação de ser anestesiada/sedada?) até que me apaguei.
Acordei ainda na sala da punção enquanto me mudavam para outra marquesa e juro que senti que estava a fazer xixi!
"Já está. Correu tudo bem!", disse uma voz simpática.
"Eu fiz xixi?", perguntei.
"Não. Está tudo bem, não se preocupe.", responderam.
"Mas eu fiz xixi!", insisti. Voltaram a responder que não e que estava tudo bem.
Não me perguntem porquê mas eu pensei mesmo que tinha urinado na punção! Mas realmente quando despertei melhor percebi que estava tudo sequinho. Não sei o que é que me deu! Eles devem ter pensado "a rapariga está mesmo pedrada!" Gente... que vergonha! 😳

Já na salinha "normal", o marido estava ansioso por saber quantos ovócitos tivemos. Eu até tinha medo de saber. Entrou o biólogo e informou que tivemos 10 ovócitos! 10??? Sim 10! Uau! Depois de um ciclo quase cancelado, com tanta assimetria no tamanho dos folículos e depois de cancelar o duplo trigger com decapeptyl e ovitrelle por risco de hiperestimulação, consegui 10 ovócitos! Eu nem queria acreditar! Com aquilo é que eu não contava. Foi o ciclo que correu pior a nível de estimulação e no final acontece isto. Bem diz o marido que os meus ovários são como a Seleção Nacional. Sofrer até à última! Avançam devagar, com risco de ficar pelo caminho mas com muitas dificuldades conseguem chegar à final. Sabemos que a fase final pode ser difícil e ficamos muito nervosos. Para piorar, o Cristiano Ronaldo lesiona-se no início do jogo e sai de campo, tal como o valor do estradiol que disparou e tivemos que dispensar o ovitrelle, ou seja, mudança de planos à última hora. Se até então tinha sido tão difícil, com este acontecimento inesperado tudo parecia estar perdido. Mas tal como o Éder, que ninguém dava nada por ele, entrou e marcou golo, o decapeptyl entrou em ação e fez o que lhe competia de uma maneira exemplar!
O Dr. J. disse com um ar aliviado "Fogo Mia! Desta vez foi melhor! Mas atenção que ainda falta saber quantos estão maduros." Pois... faltava essa parte. Decidi não me entusiasmar muito com o número até saber quantos maduros tinhamos.

Posto isto, o biólogo pediu ao marido para fazer a colheita e perguntou se não se importava de fazer ali mesmo, uma vez que a sala para o efeito estava ocupada por causa dos senhores que iam fazer espermograma. O marido respondeu que não, até preferia, pois sente-se mais à vontade ali. Então o biólogo informou que iria colocar um cartão vermelho de tamanho A4 no lado exterior da porta para ninguém incomodar. Quando o marido terminasse, deveria virar o cartão do lado verde, indicando que tinha terminado e que já poderiam entrar para recolher o material.
Acho interessante, ali na clínica deixam estar os bichinhos nos tintins do marido até à última. Só depois de constatar que há ovócitos viáveis é que pedem para fazer a recolha. No CHAA não era nada assim. Pediram logo ao marido para fazer a serviço e só 1 hora depois é que fiz a punção.
Adiante. Com o cartão vermelho na porta ninguém entraria e estavamos à vontade. O marido perguntou "hmmm... não queres dar uma ajudinha?"
"Como?", perguntei. "Eu estou pedrada e não posso sair da marquesa."
"Mostra aí a Miazinha" 😁
Colheita pronta, com o frasquinho no wc à espera que o biólogo o fosse buscar.
O marido sentou-se relaxado no sofá e ficámos a conversar. Pelos corredores ouvia-se conversas animadas sobre o jogo que nos deu a taça. Médicos, biólogos e enfermeiros comentavam sobre jogadas e jogadores.
Entretanto, o Dr. J. abriu a porta para informar que o enfermeiro iria dar-me uma pica com um bocadinho de pregnyl para ajudar na fase lútea, uma vez que o decapeptyl prejudica essa fase.
Assim que ele saiu, perguntei ao marido "tu viraste o cartão para o lado verde??"
"Não", respondeu com ar sério. "Esqueci-me!" E ficamos os dois sérios a olhar um para o outro com os olhos arregalados. "Mas... o Dr. J...", comecei. O marido levantou-se e foi logo virar o cartão. Assim que abriu a porta, viu a D. M. do lado de fora e explicou que já tinha feito a colheita mas que se tinha esquecido de virar o cartão.
"Aiiii meu Deus!!! E o Dr. J. entrou aqui com o cartão vermelho na porta!!!", disse a D. M. aflita. "Sempre a mesma coisa! Distraídos!!! Estes médicos põem-me os cabelos em pé!!! Eu quando os vejo pelos corredores, olhe, até me arrepio!!! 😂 O marido tranquilizou-a, explicando novamente que por acaso já tinha terminado o serviço mas ela continuou "Mas podia não ter terminado!!! Já viu??? Aiiiii meu Deus!" Risota total! 😂
Gente, estão a imaginar se o Dr. J. entrava na hora a H? É melhor nem imaginar! 😐

O biólogo lá levou a amostra e pouco tempo depois informou que estava de acordo com os anteriores, ou seja, os bichos estavam bons como sempre. Ainda assim, iriamos fazer ICSI, devido ao historial: embriões triploides (com 3 pró-núcleos por fecundação por 2 espermatozóides no mesmo óvulo) e muito baixa taxa de fecundação normal.
O Dr. C. foi falar connosco e deu-nos as indicações finais. Percebeu alguma preocupação nossa devido aos resultados anteriores e disse para estarmos descansados porque nem sempre corre mal. "Por exemplo, ontem correu bem!"
Verdade! Apesar de tudo, Portugal ganhou!

Deram-nos alta e informaram que no dia seguinte dariam novidades sobre a quantidade de ovócitos maduros e a quantidade de ovócitos fecundados.

Ía começar o tormento dos telefonemas 😓

Atualização do protocolo:
29/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
30/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
01/07 Pergoveris 150 UI/75 UI
02/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI (Eco)
03/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
04/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
05/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
06/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg
07/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg
08/08 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
09/07 Decapeptyl 0.1 (x2)
10/07 "Folga"
11/07 Punção. Pregnyl (?) UI. Progeffik de 8 em 8 horas + Estrofem de 12 em 12 horas.

sábado, 9 de julho de 2016

3ª FIV: terceira monitorização

Nem sei por onde começar...
Hoje fiz a terceira ecografia de monitorização dos folículos e os sacanas continuam a crescer ao seu ritmo lento e com muita assimetria. Além disso, continuam a surgir novos e pequenos folículos que não servem para nada a não ser para atrapalhar. "Aqui nascem folículos como cogumelos!", disse o Dr. J. Contaram-se 17 folículos, o menor com 7mm ou 8mm (acho eu), e o maior com 21mm. Ainda haviam mais mas como eram muito pequenos, o Dr. nem achou relevante apontar. Com esta assimetria toda, apenas uma meia dúzia estão de bom tamanho. E nem com essa meia dúzia, sabemos se podemos contar, pois a julgar pelas punções das FIVs anteriores, parte dos folículos supostamente maduros não libertam os ovócitos na punção.
"Afff... mas porque é que tem que ser tudo tão complicado comigo?", suspirei em desabafo. E o marido respondeu de imediato "Então, se fosse fácil fazia eu. Não precisavamos do médico." Com esta resposta o Dr. J. soltou uma gargalhada "Hahahahaha! É verdade! Mas até o médico dispensava esta dificuldade. Era melhor que fosse mais simples mas como não é, temos que ir tentando protocolos alternativos."
Sendo assim, o Dr. achou melhor fazer mais um dia de estimulação para ver se conseguia ir buscar mais alguma coisita e marcou a punção para segunda-feira, dia 11.
Numa tentativa de recrutar todos os ovócitos maduros, disse que iriamos fazer um duplo trigger desta vez. Duplo trigger? Uau, que nome fixe! Mas o que é isto? É nada mais, nada menos do que usar dois medicamentos diferentes para desencadear a ovulação. Normalmente usa-se para trigger final o Pregnyl, o Ovitrelle ou o Decapeptyl. Neste caso, usariamos o Ovitrelle 37 horas antes da punção e o Decapeptyl 0.1 x2 36 horas antes da punção. Ou seja, às 19h30 de Sábado teria que administrar o Ovitrelle e ás 20h30 administrar o Decapeptyl 0.1 (2 ampolas de pó para 1 de líquido). Hoje, teria que fazer mais 2 ampolas de Pergoveris e o Orgalutran.
Como habitual, teria que fazer análises ao estradiol e à progesterona, e se estivesse tudo OK mantinha-se tudo conforme o combinado. Caso, as análises estivessem com valores alterados, o Dr. ligar-me-ia durante a tarde a alterar os planos. "Mas não me parece. Em princípio vai estar tudo bem", disse o Dr.
Ótimo! Um duplo trigger vai fazer com que os ovócitos não se armem em pegajosos. Desta vez deve resultar. Tem que resultar!

Esperem. Não termina por aqui.

Por volta das 17h o Dr. J. ligou.
"Mia, é pá... o seu estradiol está mais elevado do que seria suposto. Está em risco de hiperestimulação. Ai esses ovários..."
O quê? Mas como assim? Como é que com tão poucos folículos maduros tenho o estradiol tão elevado??
Ouvi atentamente as alterações do plano e tentei parecer calma. Desliguei a chamada e fiquei uns minutos meio apática. Depois disse meia dúzia de caralhadas e dei um murro na mesa! Que ódio! Que nervos! Porque é que este corpo é assim? Porque é que comigo nada funciona? Porque é que comigo corre sempre tudo mal? Porquê? PORQUÊ?? PORQUÊ??? AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! Odeio-vos hormonas estúpidas! Odeio-te endometriose! 😠


Posto isto, já não vou poder fazer o duplo trigger. Terei que eliminar o ovitrelle pelo risco de SHO - Síndrome de Hiperestimulação Ovárica. Farei apenas o Decapeptyl 36 horas antes da punção. Isto praticamente elimina o risco de SHO mas prejudica muito a fase lútea, ou seja, diminui muito as hipóteses de implantação do embrião (caso haja). No dia da punção veremos como estão os ovários e aí decidimos se podemos fazer uma dose de pregnyl ou ovitrelle para manutenção da fase lútea, de modo a não prejudicar uma possível implantação. Estava com esperança de não ficar com os ovócitos retidos com o duplo trigger e afinal... foi tudo por água abaixo.
Só me apetece gritar asneiras e palavras feias! 😠

Atualização do protocolo:
29/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
30/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
01/07 Pergoveris 150 UI/75 UI
02/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI (Eco)
03/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
04/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
05/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
06/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg
07/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg
08/07 Pergoveris 300 UI/150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
09/07 Decapeptyl 0.1 (x2)
10/07 "Folga"
11/07 Punção.


terça-feira, 5 de julho de 2016

Cristiano Ronaldo?

Alguém tem o contacto do capitão da seleção portuguesa? Precisava de falar com ele.
Precisava que ele me dissesse alguma coisa fixe e motivadora, tipo: "Anda lá, anda lá. Não desistas! Tu hás de conseguir! Se não for desta que se foda."

Não? Ninguém?



Cristiano, se vires isto, diz aí qualquer coisa fixe. E já agora, força para amanhã 😉

3ª FIV: segunda monitorização

SOU UMA AVE RARA!
Assim que o Dr. J. me viu disse logo "Estou muito curioso para ver como estão esses ovários!" E enquanto me preparava para a eco, acrescentou ao marido: "É que com os ovários da Mia nunca se sabe com o que contar." Pois é, aqui está uma grande verdade.
Assim que viu os ovários no monitor disse logo "Não estou a gostar do que estou a ver." Para além do crescimento dos folículos estar demasiado lento, estão com muita discrepância no tamanho. Tenho um com 16mm, 14mm, 13mm, 12mm, 10mm, 9mm, dois com 8mm e o resto está com 6mm e 7mm. Ou seja, de bom tamanho para esta altura tenho 5 ou 6 folículos. O resto não vai conseguir crescer o suficiente para se puncionar. A discrepância entre eles é demasiado grande! A única coisa que gostou de ver foi o meu endométrio que, como sempre, estava muito bonito.

Resumindo:
☆ 14 folículos entre 6mm e 16mm
☆ Endométrio trilaminar 10mm

Segundo o Dr. J., não sendo o ideal, também não seria mau se os meus óvulos maduros fossem todos puncionados e se as nossas taxas de fecundação estivessem dentro das estatísticas. Mas como nas duas FIVs anteriores só saíram metade dos óvulos esperados e tivemos uma taxa de fecundação entre os 20 e os 30% a coisa muda de figura. E por isso, ficamos todos perante um dilema: cancelar o ciclo ou não. Bem, quando o Dr. J. falou em cancelar o ciclo pensei logo "Pronto. É agora que eu desisto desta treta."
A cancelar este ciclo, fariamos um protocolo diferente daqui a 3 meses, em que iria tomar estrofem antes da menstruação para tentar minimizar esta assimetria do tamanho dos folículos. Mas também não haveria garantia de que o tratamento corresse melhor e havia o problema do estrofem ser muito agressivo para a endometriose. Seria mais uma experiência. Além disso, perderiamos o dinheiro que já gastamos em medicação e teriamos também que pagar as ecografias feitas até agora.
Por outro lado, se cancelassemos este e o próximo corresse bem, o dinheiro gasto num tratamento valeria a pena. Mas lá está, não há garantia nenhuma disso.

Depois de uma longa conversa e um debate dos prós e contras, decimos não cancelar o ciclo... para já. Digamos que essa decisão ficou adiada para sexta-feira. Ou melhor, o Dr. decidiu por nós, pois tanto eu como o marido estavamos baralhados com aquilo tudo e estavamos tipo com cara de tacho a olhar para o Dr. sem saber o que fazer ou dizer.
Nos próximos 3 dias, vou parar com o ovaleap e começo a administrar 2 ampolas de pergoveris. E sexta-feira... logo se vê o que acontece...

Atualização do protocolo:
29/06 Pergoveris 150 UI/75 LH
30/06 Pergoveris 150 UI/75 LH
01/07 Pergoveris 150 UI/75 LH
02/07 Pergoveris 150 UI/75 LH + Ovaleap 100 UI (Eco)
03/07 Pergoveris 150 UI/75 LH + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
04/07 Pergoveris 150 UI/75 LH + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
05/07 Pergoveris 300 UI/150 LH + Orgalutran 0.25mg (Eco)
06/07 Pergoveris 300 UI/150 LH + Orgalutran 0.25mg
07/06 Pergoveris 300 UI/150 LH + Orgalutran 0.25mg
08/06 (Eco)

sábado, 2 de julho de 2016

3ª FIV: primeira monitorização

Hoje foi a primeira ecografia para avaliar o desenvolvimento dos folículos.
As notícias não são fantásticas. Tenho 12 folículos (6 em cada ovário) entre 4 e 11mm, ou seja, estão muito assincrónicos e isto não é bom. O endométrio estava com 4mm. O Dr. J. acha que está bem, tendo em conta que ainda só tomei 3 picas. Mas a mim não me parece lá muito bom. Na primeira ecografia da FIV anterior tinha 15 folículos entre 7mm e 12mm e endométrio com 8mm, isto após 4 dias de picas.
Decidiu aumentar a dose de FSH nos próximos 3 dias para ver se os pequeninos crescem, mais porque na punção os óvulos gostam de ficar lá agarrados e não querem sair da toca. Na próxima ecografia logo se vê se é para reduzir, manter ou aumentar a dose.
Inicialmente disse para administrar duas ampolas de Pergoveris nos 3 dias seguintes. Isso daria uma dose 300 FSH + 150 LH. Depois pensou melhor e alterou o plano. Pediu para manter 1 ampola de Pergoveris por dia e adicionar 100 de Ovaleap. Ovaleap? Sim, Ovaleap. Já conhecem? É exatamente a mesma coisa que o Gonal-f mas de marca diferente, ou seja, é FSH recombinante. Então e porque não o clássico Gonal-f? Sei lá! Talvez porque os delegados de informação médica desta marca tenham ido à clínica apresentar o produto e ofereceram algumas amostras. E o simpático Dr. J. ofereceu-me o medicamento e um estojo com a caneta. "Tenho receio que 300 FSH + 150 LH seja demasiado. Vamos fazer 250 FSH + 75 LH e terça-feira vemos. E assim poupa o pergoveris que aquilo ainda é carote!" Fixe, não é?



O Ovaleap vem com uma caneta à parte e com as recargas das agulhas. Temos que "montar" esta coisa toda para preparar a caneta. Não podiam fabricar isto já com a caneta preparada?

Também já trouxe a receita do chato do Orgalutran para começar amanhã.

Atualização do protocolo:
29/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
30/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
01/07 Pergoveris 150 UI/75 UI
02/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI (Eco)
03/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
04/07 Pergoveris 150 UI/75 UI + Ovaleap 100 UI + Orgalutran 0.25mg
05/07 Eco

quinta-feira, 30 de junho de 2016

3ª FIV

E lá vamos nós para o Round 3.
3... este número deprime-me...

Ontem ao final da manhã fiz a ecografia inicial com o Dr. J. e à noite administrei a primeira pica. Desta vez estou a usar Pergoveris 150 FSH + 75 LH. É mais chato que o Gonal-f porque tem que ser preparado. Consegue até ser mais chato que o Menopur, pois este último basta preparar tudo no início e depois é só aspirar a quantidade necessária diariamente. No caso do Pergoveris, vem em ampolas individuais e tem que ser preparado diariamente antes de ser administrado.



Diferenças e semelhanças: menopur, gonal-f e pergoveris.
Menopur: a substância ativa é a menotropina. É obtido a partir de urina de mulheres em menopausa. Contém ação FSH e LH em quantidades iguais, ou seja, 50/50.
Gonal-f: a substância ativa é folitropina alfa. Contém apenas FSH recombinante, ou seja, é sintético.
Pergoveris: Contém FSH recombinante (150 UI) e LH recombinante  (75 UI). À semelhança do menopur, este contém LH para além de FSH mas em quantidades diferentes, com predominância do FSH. Contudo, enquanto o menopur tem FSH e LH urinárias, este tem FSH e LH sintéticas.

E vocês: "Sim Mia. E quê? Isso tudo é muito giro mas o que nos interessa são os efeitos e resultados."

Pois. Sinceramente, essa também é a parte que me interessa mas os efeitos/resultados variam de mulher para mulher, em função da idade, causa de infertilidade, reserva ovárica, entre outros.
Por exemplo, em mulheres com SOP, à partida, funciona melhor o FSH isolado, uma vez que já têm LH em níveis mais elevados. Mulheres jovens com boa reserva ovárica também se aplica FSH isolado, uma vez que já têm LH em quantidade suficiente. Já no caso de mulheres com hipogonadismo gonadotrófico beneficiam de FSH + LH pois não produzem LH endógeno em quantidade suficiente para a boa maturação dos ovócitos. Também se costuma administrar LH em mulheres mais velhas ou com resposta inadequada ao FSH isolado.
Isto, dito assim de forma mais standard. Mas é claro que por vezes uma paciente tem um perfil em que, aparentemente, se adequa mais a estimulação com FSHr (Gonal-f, Puregon) e, sabe-se lá porque raio, não responde como o esperado. E nesse caso, experimenta-se o FSH com LH para ver o que vai sair dali. É o meu caso.
E claro, depois também depende da opinião de cada médico.
Também já li algures que enquanto o FSHr permite maior quantidade de ovócitos, o FSH com LH permite ovócitos de melhor qualidade mas em menor quantidade.

E em mulheres com endometriose, o que funciona melhor? Não sei. Mas comigo não funciona merda nenhuma!

Não sei o que vai sair daqui. Mas se até há uns dias atrás andava ansiosa por iniciar o tratamento, agora sinto-me em "modo automático". Não me sinto ansiosa. Não sei se isto é bom ou mau... estou com as expectativas baixas, tipo rendida à minha condição. Ando numa de "Pois, tenho que fazer isto outra vez... não sei bem para quê mas tenho que fazer. Então que assim seja."

Protocolo:
29/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
30/06 Pergoveris 150 UI/75 UI
01/07 Pergoveris 150 UI/75 UI
02/07 Eco

quinta-feira, 23 de junho de 2016

"Quem tem filhos tem cadilhos. Quem não os tem, cadilhos tem."

Aquele dia em que vamos tomar um café e vemos dois pais a contar as peripécias dos seus rebentos...

"O meu já fala pelos cotovelos!", contava um deles.
"A minha está a ficar vaidosa! Já faz birra para vestir o que lhe apetece.", contava o outro. E foram contando alguns episódios cómicos que os filhotes faziam enquanto riam.
De repente, um deles faz um ar mais sério e diz:
"Ai... faze-los é fácil! Mante-los é que é difícil! Não é?"
"Pois é, pois é... Só esta semana já gastei quase 60 euros com o meu!", responde o outro com uma expressão preocupada.
"E eu? No mês passado a minha ficou doentita, deixei logo 30 e tal euros na farmácia! Isto, claro, para além do infantário, as fraldas, etc. Ficam caros os miúdos!"

Esta era a parte em que eu entrava na conversa e dizia:
"E eu? Só este ano já gastei quase 6000 euros com o meu e ele ainda nem existe!" Mas achei melhor não os deixar em choque.

"Quem tem filhos tem cadilhos!", diz um deles num suspiro.
"E quem não os tem, cadilhos tem", pensei eu.

Se para eles, fazer é fácil e manter é que é difícil, para mim, fazer é difícil! Depois disso, acho que mante-los vai ser mel!

terça-feira, 31 de maio de 2016

Curriculum Vitae

Há dias assim... ficamos a pensar no tempo que já passou, nos médicos que consultamos, nos exames e nos tratamentos que já fizemos, nos remédios que já tomamos e até no dinheiro que já gastamos. Pelo meio, vamos conhecendo outros casos como os nossos, outras histórias, outros diagnósticos, uns de sucesso, outros de insucesso.
E as dúvidas permanecem: será que alguma vez vou conseguir? E se conseguir, quando será? Quantos mais tratamentos terei que fazer? Quantos mais remédios terei que tomar? Quanto mais dinheiro terei que gastar? Quanto mais tempo terei que esperar? Até quando o meu corpo, a minha doença e as minhas finanças irão aguentar? E as minhas emoções?

Há dias em que não consigo deixar de pensar em todo o meu percurso (que infelizmente ainda não acabou) e que já podia ter um filho com 2 anos e meio. Sei que é estúpido da minha parte pensar assim, mas penso. E pergunto-me como seria se tivesse engravidado no primeiro ciclo de tentativas, como acontece com tantas mulheres, principalmente na minha idade! Como seria? Como estaria a minha vida com um filho de 30 meses? Já estaria a planear um segundo filho? Não sei. Mas estaria muito mais feliz e realizada de certeza! Às vezes acho que todo este processo me está a tornar uma pessoa mais amarga... e não gosto disso. Não gosto desta "Mia Amarga", azeda e ácida. E vocês: "Olha-me esta... tira-lhe o vinagre e deita-lhe açúcar que isso passa!" 

CURRICULUM VITAE

Nome: Mia Bella
Morada: Urbanização da Grande Guerra, 13. 1313 Armadura.
Contacto: babyprojectfiv.blogspot.com

Formação:
• Doutoramento em Endometriose Assanhada
• Pós-graduação em Síndrome do Folículo Vazio

Experiência:
• Fevereiro 2013: Início das tentativas. Sem sucesso.
• Novembro 2013: Suspeita de Endometriose.
• Dezembro 2013 - Março 2014: Tratamento com Dufine e Duphaston. Sem sucesso.
• Abril 2014: Histerossalpingografia. Trompas OK.
• Abril 2014: Ressonância Magnética. Diagnóstico de Endometriose profunda confirmado. Tumor no septo reto-vaginal, endometriomas nos dois ovários, focos infiltrativos no cólon sigmóide e várias aderências espalhadas no peritoneu.
• Maio e Junho 2014: Coito programado com Menopur, Pregnyl e Duphaston. Sem sucesso.
• Julho 2014: Ciclo "au naturel" para descansar o organismo.
• Agosto - Dezembro 2014: Pílula contínua (Mercilon).
• Dezembro 2014: Cirurgia laparoscópica: Todos os endometriomas, focos, aderências e tumor RV removido com sucesso.
• Dezembro 2014 - Fevereiro 2015: Tratamento com Decapeptyl 3.75.
• Março - Junho 2015: Tentativas "au naturel". Sem sucesso.
• Julho 2015: Visanne.
• Agosto - Outubro 2015: Tratamento com Lucrin depot 3.75 para preparação para FIV.
• Novembro 2015: Primeira FIV. Sem sucesso.
• Dezembro 2015 - Fevereiro 2016: Em modo "deprê" e modo "deixandarqueselixe".
• Março 2016: Histeroscopia diagnóstica. Tudo OK.
• Abril 2016: Segunda FIV (com microinjeção). Sem sucesso.
• Maio 2016: Pílula Denille.

terça-feira, 24 de maio de 2016

Consulta Pós-FIV II

Depois de tantos dias de ansiedade, chegou finalmente o dia da consulta. E não é que a Mia acordou com vontade de fugir porque estava com medo de ir à dita consulta? Pois é, só me apetecia evaporar! Mas lá fui. Enjoada, com algumas cólicas típicas da minha ansiedade mas fui.
Chegamos ao consultório e fui de imediato preparar-me para eco. Enquanto me despia, olhei para a cadeira e mentalmente cumprimentei "Olá cadeira articulada! Cá estou eu mais uma vez".
O Dr. J. começa a fazer a eco e... "Está tudo bem. Impecável! Os ovários estão normais, tudo dieretinho." ALÍIIIIIIIIIIIIIIVIO! "Endométrio 5mm; normal; normal", ditou para a assistente. Parece que a diabólica da endometriose não me chateou muito, mesmo depois de um protocolo curto!
Depois da eco fomos conversar. Falamos de várias coisas: os tratamentos anteriores, protocolo num próximo tratamento, estudos científicos que estão a ser desenvolvidos por eles, vantagens e desvantagens de protocolos clássicos e protocolos alternativos, etc. Confesso que não me importava de ficar ali o dia inteiro a falar sobre os estudos existentes, estudos a serem desenvolvidos, conclusões, limitações dos mesmos, fármacos envolvidos, bem como os seus mecanismos de ação, efeitos e resultados, enfim... CIÊNCIA!

Mas resumindo:
Num próximo tratamento, iremos optar por um protocolo com uma abordagem um pouco mais alternativa. Será novamente um protocolo curto, com antagonista mas a injeção final para maturação ovocitária será um agonista. Ou seja, em vez do habitual pregnyl ou ovitrelle, utilizaremos o decapeptyl 36 horas antes da punção. Contudo, como este irá prejudicar a recetividade endometrial, teremos que fazer um reforço da fase lutea de modo a não diminuir as hipóteses de implantação do embrião. Para isso, iremos administrar o pregnyl no dia da punção. Para além disso, vamos também aumentar um bocadinho a dose de Gonal-f e provavelmente, adicionar LH em vez de estimular apenas com FSH. Ou seja, adicionar menopur ou pergoveris.

Como temos que dar um descanso ao organismo, o Dr. J. sugeriu fazer o tratamento lá para Setembro, uma vez que em Agosto fecham para férias. SETEMBRO?? 😲 Imediatamente soltei um dramático "Nãaaaaaaaaaaaaaao! Tanto tempo, não! Por favor!" 😣 Ele ficou a olhar para mim com um leve sorriso durante uns segundos... tipo aquele ar de quem está a pensar "Porra, não me digas que a miúda vai ter uma crise de histeria!"
"Pronto", respondeu. "Só se for em Julho então. É que em Agosto estamos de férias... sim, acho que é possível fazer em Julho". Não satisfeita, ainda perguntei "Tem mesmo mesmo mas mesmo que ser em Julho? Não pode ser um bocadinho antes?" Ao que ele respondeu "Não. Temos mesmo que dar esse intervalo para os ovários recuperarem bem."




Ok... eu sei que ele tem razão. Mas pronto, tentei. Pelo menos não será em Setembro! Céus! Dava-me uma coisa má!
Resta-me esperar ansiosamente pelo mês de Julho.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

A Endometriose destrói-nos


Eu até diria melhor: "A Endometriose destrói o corpo e rouba os sonhos".
Esta doença que é tão desvalorizada pela sociedade e até pela comunidade médica, atirou com o meu projeto de vida pelo cano abaixo. O meu projeto de vida... que é tão simples, tão banal e tão puro: ter filhos. Não é ser famosa, não é ser rica, não é ter uma carreira profissional brilhante ou dar a volta ao mundo. É simplesmente ser Mãe! Conhecer esse amor tão forte, tão puro e incondicional que para a maioria é tão simples e fácil, para mim é algo distante e inalcansável.

Vivo prisioneira no meu próprio corpo com um sonho trancado num baú.
Espero um dia conseguir encontrar a chave que abre esse baú...

terça-feira, 17 de maio de 2016

Síndrome do Folículo Vazio

Mas que porra é esta afinal?
Já revirei tudo na internet, li artigos, estudos científicos, pesquisei em fóruns e nada. Há muito pouca informação sobre este assunto. Não se sabe qual é a causa e muito menos a solução. No entanto, apontam-se apenas algumas hipóteses para a causa.
Do pouco que consegui encontrar, fiz um apanhado da informação.

A Síndrome do Folículo Vazio carateriza-se pela ausência de ovócitos no fluido folicular no momento da punção. Trata-se de um acontecimento raro, com incidência entre 0.5 e 7% dos ciclos de reprodução assistida.
Estima-se que haja uma hipótese de 20% de recorrência.

Entre as possíveis causas para SFV apontam-se as seguintes hipóteses:

1-Alterações na foliculogênese que possam provocar atresia folicular precoce ou alteração no desenvolvimento no ovócito.
2-Resposta insatisfatória à hcg exógena. Aqui, inclui-se a hipótese de anormalidade de alguns lotes do medicamento comercializado e a hipótese de metabolização hepática acelerada da hormona.
3-Causas genéticas. Uma mutação (N400S) em homozigotia do recetor de LH.

Possíveis soluções para o problema:
1-Após a punção folicular em que se verifique a ocorrência de SFV, administrar uma segunda dose de hcg e realizar nova punção após 24 horas.
2-Dar preferência à hcg recombinante (ovitrelle) em vez da hcg urinária (pregnyl) pela sua maior pureza e maior uniformidade nas concentrações.
3-Substituir o hcg pelo agonista GnRH (decapeptyl) para maturação ovocitária final, elevando os níveis séricos de gonadotrofinas endógenas, tal como acontece em ciclos naturais.

Importa salientar que o nome "folículo vazio" revela-se inadequado, uma vez que o problema demonstra resultar de distúrbios na maturação final dos ovócitos e não da sua ausência.

No meu caso, a primeira hipótese para a causa do problema está excluída, uma vez que os níveis de estradiol estão sempre compatíveis com a quantidade de folículos maduros. Portanto, e uma vez que já aconteceu o mesmo por duas vezes, ou tenho uma metabolização hepática acelerada do medicamento ou tenho a tal da mutação genética.
Quanto às possíveis soluções, e uma vez que já experimentei tanto a hcg recombinante como a hcg urinária, ou faço uma nova dose de hcg e nova punção, ou experimento o decapeptyl em vez do hcg. Digo eu que não percebo nada disto. Sei lá! Fazer uma nova punção não me parece uma boa solução, porque para além de isso aumentar muito a hipótese de Síndrome de Hiperestimulação Ovárica, nem quero imaginar os custos que uma segunda punção poderiam ter!
Não sei o que o médico me vai dizer ou propor relativamente a isto mas se a ciência não sabe, ele provavelmente também não saberá. Enfim... sou mesmo um bicho raro!

Que nervos que isto me causa! Detesto não ter respostas concretas! Às vezes apetece-me preparar um plano maquiavélico para raptar todos os cientistas e investigadores desta área, prende-los numa cave e obriga-los a descobrir a causa! Só os libertar, depois de descobrirem a causa e uma solução eficaz e adequada! MUHAHAHAHAHA! 😈

Vocês devem estar a pensar "Woooou! Esta Mia está louca!" Tenham calma, não se assustem com a minha insanidade mental. De vez em quando tenho uns breves surtos psicóticos mas rapidamente volto à lucidez. À fria e entediante lucidez.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Quando o cérebro não desliga

Por mais que eu tente não consigo parar de pensar no mesmo.
Porque motivo mais de metade dos meus folículos não contêm ovócitos para puncionar?
Porque motivo os poucos ovócitos que tenho não têm qualidade, sendo eu jovem? Uns degeneram, outros não fecundam, outros fecundam mal.
Porquê???
Já não chega ter endometriose?

Nunca mais chega dia 24! Preciso de respostas, preciso de explicações, e acima de tudo, preciso de soluções!
Preciso de saber como isto ficou por aqui. O que poderei fazer a seguir? Qual a estratégia para um próximo tratamento (se é que existe)? Quanto tempo terei que esperar até poder fazer a próxima FIV? Um ciclo de intervalo chega? Dois ciclos?
Custa-me estar à espera... à espera não sei bem do quê. Só queria ouvir que há solução, que posso começar outra tentativa brevemente.

Entretanto, e porque preciso de sentir que estou a fazer algo para contribuir positivamente, comecei a tomar coenzima q10, 1 cápsula de 120mg por dia e vitamina D.
Li no site do IPGO que a coenzima q10 melhora a qualidade dos óvulos, as taxas de fertilização e contribui para a formação de blastocistos. Se resulta? Sei lá! Não faço ideia. Se está comprovado cientificamente? Ainda não. Mas se há alguns estudos científicos que apontam nesse sentido, porque não experimentar? Afinal de contas, neste momento não tenho nada a perder, a não ser uns euros. Mas o que são 29 euros no meio de uns milhares? Por isso, venha a coenzima q10.
A carência de vitamina D, segundo o IPGO, pode contibuir, entre outros, para problemas de fertilidade. E ao que parece mais de metade da população mundial tem carência desta vitamina e nem sabe! Apesar de estar a tomar um suplemento, bonito bonito era o sol vir para ficar porque este sim, é a maior e mais eficaz (e mais barata também) fonte de vitamina D.
Sol, vê lá se contribuis! Nuvens negras, vão de férias para outro sítio, se faz favor.

Para o caso de quererem consultar, deixo aqui o link sobre este assunto.
http://www.ipgo.com.br/novos-tratamentos-melhoram-a-fertilidade-da-mulher/



sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sexta-feira 13

Diz-se por aí que a sexta-feira 13 é um dia de azar. As bruxas saem à rua e os demónios assombram as pessoas.
Inspirada no Halloween americano, em Montalegre celebra-se este dia de azar, com decoração e vestimentas a rigor: chapéus altos e ponteagudos, gatos pretos, morcegos e caldeirões.
Que engraçado, não é? Estava a pensar em "entrar no espírito" e celebrar a sexta-feira 13 vestida a rigor. Pensei em disfarçar-me, sei lá... de endometriose. E andar por aí a atormentar pessoas. O que acham?
Muhahahahaha


sábado, 7 de maio de 2016

Tenho um demónio dentro de mim

No passado dia 2 terminei o protocolo com a análise beta hcg. Digo-vos, fazer esta análise, sabendo que o resultado será negativo é duro, muito duro. Nem sei como tive força para ir ao laboratório. No final do dia, recebo via e-mail um resultado de 2 mUI/mL, confirmando o teste de farmácia negativo no dia 29. Umas horas depois chegou o Hellboy e desta vez veio cheio de armas para me atacar.
Dores, dores e mais dores... Voltei ao tramal mas quase não fez efeito.
Odeio-te Hellboy! Odeio-te com todas as minhas forças!

Tenho um demónio dentro de mim. Um demónio que cresce sem parar e destrói o meu corpo. Um demónio que se alimenta das minhas derrotas e me rouba os sonhos. Esse demónio tem nome e chama-se Endometriose.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

D8

Desânimo... não sei o que fazer nem o que pensar.
Hoje é o dia 8 após a transferência. Seria o 10° DPO se fosse um ciclo normal. Até ao D5 tudo ok. Peito inchado e dorido era a única coisa que sentia. Foram dias tranquilos com mimos do marido e da minha filhota de 4 patas. A partir do D6 começaram as moínhas no fundo da barriga... como sempre. No D7 as moínhas aumentaram e juntaram-se umas picadas. Hoje, D8, mais moínhas, mais picadas, mais dores nos ovários e, o pior de tudo, o peito deixou de estar dorido e inchado. Tudo igual mas tão igual a todos os outros ciclos de tentativas falhadas, incluindo o ciclo da primeira FIV. Sempre os mesmos sintomas uns dias antes do Hellboy aparecer.
Medo, raiva, desespero. É o que sinto neste momento.
Espero o pior.

Que corpo é este?

quarta-feira, 27 de abril de 2016

10 comentários infelizes sobre (in)fertilidade

Não sei se convosco também é assim mas comigo o "massacre" das pessoas acerca deste assunto era constante. E digo "era" porque ao longo deste tempo fartei-me de tal maneira dos comentários infelizes e das perguntas indiscretas que comecei a adotar algumas medidas para me proteger. Car@lho! Em cada almoço de família a pergunta era sempre a mesma "E bebés, para quando?". Cruzava-me com alguém conhecido na rua e lá vinha a pergunta "E o bebé já vem a caminho?". Até aquelas "amigas" que estão fartas de saber que tenho a maldita da endometriose, de saber que conseguir uma gravidez é algo difícil e complexo e saber que o assunto é emocionalmente delicado para mim, não se inibiam de perguntar todos os meses "Então, já estás grávida?" E o pior é que perguntavam isto com aquele sorriso palerma estampado na cara! Eh pá! Dava-me uma camada de nervos que só me apetecia manda-las para o Car... ATCHIM! Ai... desculpem... um pêlo no nariz fez-me espirrar de repente. Onde é que eu ia? Ah sim! Apetecia-me logo manda-las para o Caribe de férias para ver se se distraíam e deixavam de fazer perguntas indelicadas!
Cansei de responder "Para já não, mais tarde" ou "quando tivermos a vida mais organizada" ou "quando vier vem". Então, experimentei "abrir o jogo" e explicar que estavamos com problemas para engravidar e é aí que começam os verdadeiros comentários infelizes... Como sou pouco tolerante ao preconceito e à indelicadeza, logo comecei a dar respostas como "Não posso ter filhos. Não quero falar disso e agradeço que respeitem." Foi (quase) remédio santo e a maioria deixou-me em paz. Sei que falam do assunto na minha ausência mas pelo menos não me fodiam a cabeça.
Atenção, sei que muitas vezes as pessoas não o fazem por mal. Infelizmente, não passa pela cabeça de muita gente que um casal jovem e aparentemente saudável não consiga ter filhos, mesmo tendo aquela doença estranha chamada endoqualquercoisa que os médicos dizem não ser grave e que "quando engravidar isso passa". Infelizmente a sociedade não está consciencializada deste problema. Mas temos que admitir que estes comentários são, na sua maioria, fruto de muita ignorância, indelicadeza e preconceito à mistura.

Com isto, consegui reunir numa lista alguns comentários típicos sobre o assunto, alguns que tive a infelicidade de ouvir, outros, que colegas de guerra partilharam comigo.

1 - Porque não adotas? Há muitas crianças abandonadas à espera de uma família.
Gente, acham mesmo que estão a dar uma grande novidade como se fosse uma solução eficaz?
Sim, a adoção pode ser uma alternativa. Mas por favor, não dêem esta sugestão como se fosse a decisão mais fácil do mundo porque não é. Não falem da adoção como se fosse fácil abdicar de um filho biológico. Não falem de adoção como se fosse fácil abdicar de todo o processo de gravidez! E por último, não falem de adoção como se fosse algo simples e rápido como se se tratasse de ir a uma loja comprar um cachorrinho, em que escolhemos o mais giro e fofo, pagamos e trazemos para casa. Não é assim que funciona! Antes disso, o casal provavelmente quererá esgotar todos os recursos possíveis para ter um filho biológico. Caso não aconteça, aí sim, poderá ponderar a adoção, mas antes precisa fazer o luto da situação. Além disso, o processo de adoção é longo, podendo demorar vários anos, e emocionalmente desgastante.
Não é bem verdade quando se diz por aí que há muitas crianças abandonadas à espera de uma família. Há sim muitas crianças institucionalizadas, mas aptas para adoção não há assim tantas.
Obviamente que nem todos vêem a adoção da mesma maneira. Há casais que só recorrem à mesma em último recurso, outros preferem esta opção em vez dos tratamentos de PMA, outros querem adotar independentemente de terem ou não filhos biológicos e outros não querem adotar, seja qual for a circunstância. De qualquer maneira, respeitem o casal e não sugiram a adoção, como se fosse algo simples e banal, quando o casal tenta desesperadamente ter um filho biológico.

2 - Isso é da ansiedade. Basta relaxar e vais ver que engravidas logo.
A sério? Depois de tantos médicos e exames vocês, espertinhos, descobriram a causa! A ansiedade! Oh gente, pelamordedeus! Informem-se antes de fazerem este tipo de comentários. A ansiedade pode ser algo bem chato e pode causar alguns sintomas físicos, quando ultrapassa a ansiedade normal e se torna patológica. Mas não causa infertilidade. Por favor, não digam a um casal com um diagnóstico de endometriose, um diagnóstico de azoospermia, um diagnóstico de Síndrome do Ovário Poliquístico ou um diagnóstico de Falência Ovárica Precoce que o problema deles é a ansiedade! Se assim fosse não seriam necessários procedimentos caros e complexos, bastando apenas um simples e barato ansiolítico.

3 - Vão de férias que quando chegares cá já estás grávida.
Aaaiiii... quem me dera que isto fosse verdade. Em vez de gastar uns 4 ou 5 mil euros num tratamento de PMA, eu ía adorar pegar nesse dinheiro e ir antes a uma agência de viagens comprar um pacote Especial Fertilidade - All Inclusive nas ilhas Maldivas! Quem é que precisa de auto-injetar hormonas artificiais, ecografias e fertilizações in vitro quando pode ir de férias para um local exótico?

4 - Se não consegues engravidar é porque Deus não quer.
Confesso que esta é das que mais me irrita e entristece. E talvez aquela que mais revela a ignorância humana! Obrigadinha por acharem que Deus nos considera de tal maneira horríveis que não quer que sejamos mães. Mas então e aqueles casos, de mulheres que engravidam e fazem IVG só porque sim? E aquelas que têm os filhos e os maltratam, matam e abandonam? Deus enganou-se no ventre?

5 - Eu faço um bebé a mais e dou-te.
Até parece que estão a falar de um cabo de cebolas que têm a mais e que podem dispensar. Céus! Agradeço a grandiosa generosidade mas dispenso. Caso não tenhas reparado, eu não quero um filho teu, quero um filho meu e do meu marido.

6 - Deixa lá. Há coisas bem piores na vida.
Para ti, talvez. Mas para mim, que a única coisa que sempre quis na vida foi ser mãe, não há nada, repito NADA, pior! Se não tenho a única coisa que sempre quis, o que pode haver de pior? Para alguém que sempre sonhou ser um jogador de futebol de sucesso e desde pequeno lutou e fez por isso, não deve haver nada pior do que ter uma grave rotura de ligamentos ou outra lesão que o impeça de jogar futebol.
E não sejam baixos ao ponto de dizer: "podia ser pior, podias ter um cancro!". Sim? Também dizem a alguém que acabou de amputar uma perna "deixa lá, podia ser pior. Podias ter de amputar as duas." ... o problema é que eu sei que há gente estúpida o suficiente para o dizer...

7 - Não sabes a sorte que tens. Podes gozar a vida à vontade. Se eu sabia não os tinha tido.
E vem esta gente falar de boca cheia! Haja paciência... Sorte? Por desejar muito um filho e não poder? Por ter que fazer tratamentos invasivos? Por ter de abdicar de muitas coisas para poder pagar um tratamento? Se isso é sorte não quero imaginar o que é o azar! Então quando a causa é uma doença como endometriose, este comentário ainda se torna mais parvo e infeliz. Enfim...

8 - Tens a certeza que queres ter filhos? Olha que dão muito trabalho e muita despesa.
Não me digam! A sério que dão trabalho e despesa? Não fazia ideia! Perguntar a uma pessoa que já fez uma série de procedimentos chatos e dolorosos se tem a certeza que quer ter filhos é um bocado mau, não? Quanto à despesa, essa até dá para rir. Querem mesmo debater o preço das fraldas com alguém que já gastou milhares de euros com um filho que ainda nem existe?

9 - Mas vocês fazem sexo?
Eh pá... Esta é tão estúpida mas tão estúpida que eu acho que nem vale a pena comentar. À frente...

10 - Vais querer um filho feito em laboratório? A criança não pode nascer com problemas? E vai ser parecido com quem?
Ainda há quem ache que os bebés concebidos com ajuda da medicina são inventados em laboratório assim do nada. Lol! Não sei qual é a ideia que as pessoas têm sobre a conceção mas os bebés concebidos com ajuda da medicina de reprodução, tal como os bebés concebidos de forma natural, são fruto da união de um óvulo e de um espermatozóide. Ok? E, em ambos os casos, serão parecidos com a mãe e/ou pai, eventualmente com avós e tios. Quanto a possíveis problemas que a criança possa vir a ter, são exatamente os mesmos que uma criança concebida de forma natural. Isso pode acontecer e ninguém pode prever.

Fica aqui o apelo aos saudáveis/férteis: Não façam comentários infelizes nem perguntas indelicadas. Não sejam inconvenientes! Respeitem as pessoas que passam por esta situação e dêem-se ao respeito! Não sabem se um dia, vocês próprios ou os vossos filhos, também poderão vir a passar por uma situação idêntica.

Aos que estão na mesma situação que eu, lembrem-se: não são os únicos que lidam com estes comentários chatos e embaraçosos.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

Transferência embrionária

No dia seguinte à punção acordei muito cedo. Não conseguia dormir. Desta vez, sabia que o telemóvel ía tocar, independentemente das notícias serem boas ou más. Sentia-me muito ansiosa!
O telemóvel tocou às 10h30 e eu não tive coragem de atender. Dei o telemóvel ao marido e fugi para não ouvir a conversa. O meu coração parecia que me ia saltar do peito!
O marido aproxima-se para contar as informações recebidas e eu sinto o coração ainda mais acelerado.
"O que estava imaturo não amadureceu para poder ser microinjetado. Dos quatro restantes, dois degeneraram e os outros dois foram microinjetados. Um deles está a desenvolver bem, o outro está um bocadinho mais lento mas não quer dizer que não gere um bom embrião. Temos de estar lá amanhã às 15h30. Tens de ir com a bexiga cheia e levar o progeffik para depois o colocarem."
Mais uma vez, senti que o Universo estava contra mim... Fiquei revoltada, gritei e chorei. A minha esperança parecia ter-se evaporado.
No dia seguinte, quarta-feira, dia 20, acordei ainda mais nervosa e angustiada, como se esperasse más notícias. Já esperava que me ligassem do laboratório a dizer que afinal já não ía haver transferência, porque os embriões pararam de se desenvolver ou que estavam com uma qualidade muito fraca. Ironicamente, durante a manhã recebi algumas chamadas mas nenhuma foi do laboratório. Cada vez que o telemóvel tocava pareciamos baratas tontas a correr sei lá para onde. Que patetas!
A manhã passou, almoçamos e não recebemos nenhuma chamada do laboratório. Se aquilo me tranquilizava? Mais ou menos... não sabia se iamos chegar lá e iamos ter más notícias.
Quando chegamos, o marido perguntou logo à bióloga qual era a má notícia desta vez. Pois é... já estamos habituados a que hajam más notícias a cada etapa. A bióloga informou-nos então que dos 2 ovócitos microinjetados, 1 não evoluiu para embrião. Mas o outro evoluiu e estava bonito e com um bom desenvolvimento. Estava classificado como B6, ou seja, tinha 6 células, o que é muito bom, visto tratar-se de um embrião de 2 dias, em que o esperado são 4 células. Disse que só não teve uma classificação de A porque tinha uns pequenos risquinhos. Explicou também que nestes casos optam por fazer a transferência ao segundo dia, porque como o embrião já está selecionado, não há vantagem em mante-lo em cultura. O melhor ambiente é sem dúvida o do útero materno, onde o embrião recebe outros estímulos que em cultura não recebe.
Ficamos logo desiludidos (ainda mais!) por ser apenas um. As nossas hipóteses foram logo reduzidas para metade. E o facto do embrião ser de dois dias deixa-me muito insegura, pois o desenvolvimento dele é muito imprevisível e assim não há forma de saber se ele continua a desenvolver bem...
Fomos para a sala onde fiz a punção e o Dr. J. veio fazer a transferência. Li-lhe a mesma expressão facial que no dia da punção. Fez-me uma festinha, e conversou um bocadinho connosco. Pediu para não ficarmos tristes, para acreditarmos todos neste embriãozinho que estava bom e bonitinho. E, caso não resultasse, pediu para não ficarmos depressivos e a pensar que não iamos conseguir. Entendia o nosso enorme desgaste emocional e financeiro mas queria que fossemos fortes e seguissemos em frente confiantes. Achei muito querido e atencioso da parte dele e também das biólogas.
A transferência foi feita sem dificuldade. O Dr. J. despediu-se de nós e disse que esperava boas notícias em breve.
Enquanto estava a repousar, o Professor veio dar-nos uma palavrinha. Apresentou-se e desejou muito boa sorte e felicidades. Disse que apesar do tratamento não ter corrido como o esperado, tinhamos um bom embriãozinho, e embora seja só um, "mais vale só que mal acompanhado".
No final, a D. Manuela que é uma grande porreiraça também se despediu de nós com dois beijinhos e um forte abraço e desejou-nos muita sorte.
E lá viemos embora, um pouco mais conformados com a situação. Estou contente por ter tirado o miúdo dos frascos e te-lo comigo. Agora só queria que se portasse bem e não fugisse da mamã.

Atualização do protocolo:
07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
12/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
13/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
14/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
15/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
16/04 Pregnyl 10000 (Eco)
17/04
18/04 Punção. Progeffik 200mg de 8 em 8 horas
02/05 Beta-hcg

Punção

Já devia ter vindo escrever sobre isto há mais tempo. Mas os últimos acontecimentos desorganizaram-me os pensamentos... não conseguia escrever nada de jeito.

Na passada segunda-feira dia 18 fiz a minha punção. Chegamos à clínica por volta das 8h30. Levaram-me para uma sala com wc e mandaram despir a roupa e vestir a bata. Às 8h45 fui para a sala da punção, onde já estava o médico anestesista e o Dr. JB. Disseram-me que já sabiam que a punção no CHAA tinha corrido mal mas que não me preocupasse que desta vez não iria haver problemas com a anestesia nem com o óvario tímido. Quanto ao resto logo se veria.
"Bons sonhos", disse o médico anestesista.
Acordei com miminhos do marido... hmmm tão bom. Perguntei logo quantos ovinhos tinhamos mas ele ainda não sabia, apenas sabia que a punção tinha corrido bem e tinha sido rápido, demorou cerca de 10 minutos.
Chega uma enfermeira com um cházinho com bolachas e um ben-u-ron e informa-nos que tiraram 5 óvulos. FUCK! Outra vez não! O que é que foi agora??
O Dr. J. veio falar connosco e mal entrou na sala pude ver uma expressão triste e desiludida. Disse que não correu como nós queríamos. Ambos os ovários foram puncionados. Confirmou que realmente um deles tinha um acesso um pouco mais difícil mas nada por aí além, já tiveram casos bem piores. O problema foi mesmo o facto de alguns folículos não conterem ovócitos. Mas que raio! Afinal sempre tenho folículos vazios! Depois disto, chegamos à conclusão que no CHAA para além do ovário não puncionado, também houveram folículos vazios. Mas pediu para não ficarmos tristes e para termos esperança nestes ovinhos. Entretanto o Dr. C. veio dar um "Olá" e estivemos a debater sobre as possíveis causas dos 3 pró-núcleos na primeira FIV e a ponderar se seria melhor com ou sem microinjeção. Embora a bicharada do marido esteja muito boa, decidimos fazer ICSI. Se houvessem muitos óvulos fariamos FIV mas neste caso, tendo em conta o historial, decidimos não arriscar. Pelo menos desta vez sabemos que não vão praticar poligamia, fazer ménage à trois nem nada dessas modernisses. Safados! 😑



Já depois de sairmos da clínica, a bióloga ligou-nos a dizer que dos 5, 1 estava imaturo. Disse que iam ver se ele amadurecia até ao dia seguinte mas de qualquer forma, disse para não contarmos muito com ele. Regressamos a casa um pouco desiludidos. Mas na expectativa do que poderia acontecer...
Pelo menos nesta punção conseguiram alcançar os dois ovários, não houve nenhum problema com a anestesia, não houve nenhuma hemorragia (nadica de nada) e acordei praticamente sem dores. Da primeira vez acordei com dores horríveis e uma compressa enorme cheia de sangue. Parecia que me tinham arrancado os órgãos e esfaqueado por dentro. Um verdadeiro filme de terror! Desta vez nem parece que fiz punção. Foi muito tranquilo.

Atualização do protocolo:
07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
12/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
13/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
14/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
15/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
16/04 Pregnyl 10000 (Eco)
17/04
18/04 Punção. Progeffik 200mg de 8 em 8 horas


sábado, 16 de abril de 2016

Terceira monitorização

... e última! Afinal vou fazer a punção na segunda-feira dia 18 às 8h50. Isto poderia ser uma boa notícia, não fossem os meus ovários um par de hipócritas! Passaram de 15 folículos a 11, e de 11 passaram a 8... Ou melhor, os 15 continuam lá mas metade estão demasiado pequenos e não servem para nada. Enfim... vá-se lá entender! Pelo tamanho, o Dr. J. espera ter 8 maduros.
Estou triste, desanimada, chateada... agora, mais do que nunca, tenho o desfecho da última fiv muito presente na minha cabeça. Também tinha 8 folículos de bom tamanho, pelo que contavam com 8 ovócitos maduros. E no fim foi o que foi... sinto que a história se está a repetir.

Hoje já administrei o pregnyl 5000 x 2 numa injeção intramuscular às 20h50 e assim despedi-me das picas.

Atualização do protocolo:
07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
12/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
13/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
14/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
15/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
16/04 Pregnyl 10000 (Eco)
17/04
18/04 Punção

Resta-me esperar que ao menos desta vez a punção corra bem, sem surpresas desagradáveis. Espero que não haja nada de folículos vazios, nada de óvario fugitivo, nem hemorragias, nem resistência à anestesia.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Segunda monitorização

Ontem de manhã foi dia de mais uma ecografia de monitorização.
As coisas não estão a correr grande coisa... Dos 15 folículos detetados anteriormente, 4 não desenvolveram. Os restantes 11 cresceram mas cresceram pouco. Estão com um tamanho entre 10 e 16. Oh lentidão! O Dr. J., que tinha apontado a punção lá para segunda-feira dia 18, diz que talvez só lá para terça ou quarta é que se poderá fazer. Ainda ponderou aumentar a dose da medicação mas ficou com receio de uma hiperestimulação. Pediu para continuar com a mesma dose, ir lá no sábado para mais uma eco e depois logo se vê. "Um passo de cada vez", disse ele.
Já me sinto bastante inchada e com umas pontadas no fundo da barriga jeitosas.
Para ajudar à festa, hoje acordo com sintomas de infeção urinária 😐 Sabem aquele ardor que fica depois de fazermos xixi em que só nos apetece ficar com as pernas encolhidas? Pronto, é assim que eu estou.


Liguei para a clínica e o Dr. J. disse que isto pode ser efeitos da estimulação. Pediu para beber muita água para manter o xixi sempre o mais clarinho possível e ver como me sinto ao longo do dia. Se não melhorar, tomar monuril 3mg, uma saqueta hoje e outra amanhã à mesma hora.
SAI DAQUI NUVEM NEGRA!

Atualização do protocolo:
07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
12/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
13/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
14/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg (Eco)
15/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
16/04 > Eco

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Primeira monitorização

Hoje de manhã lá estava eu naquela famosa cadeira com as pernas em V 😳
Estava nervosa e com medo do que podesse ouvir. O Dr. J. começa a ditar os números para a assistente e eu "afiei" os ouvidos. No meio daqueles números ouvi o que mais me interessava: 8 + 7. 15 no total! Ah, assim está bem!
O Dr. J. diz que os ovários estão a responder muito bem e o tamanho dos folículos é o esperado para esta altura. Diz que vamos manter a mesma dose, pois não quer que eles estimulem demasiado.

Resumindo:
☆ 15 folículos entre 7mm e 12mm.
☆ Endométrio trilaminar 8mm.

Tudo ok para esta altura. Ufa! Que alívio! 😄
A partir de hoje começo a administrar também o antagonista, 1 injeção por dia, e continuo com 150 UI de Gonal-f. Saí de lá com uma prescrição de Gonal-f 450 UI e Orgalutran 0,25mg. SOCORRO! A MINHA CARTEIRA ESTÁ SEMPRE A SER ASSALTADA!  

Atualização do protocolo:
07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg 
12/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
13/04 Gonal-f 150 UI + Orgalutran 0.25mg
14/04 > Eco


Estava com receio da injeção de Orgalutran porque a agulha é mais grossa e porque já li que algumas meninas não gostam. Realmente sente-se mais a picada, é verdade, mas não doeu. Durante alguns minutos depois senti um ligeiro, mas mesmo muito ligeiro, ardor no local da injeção. Mas, meninas que vão usar o orgalutran, não tenham medo, tá? É tranquilo. Além disso, nós somos mulheres de guerra!


SOMOS OU NÃO SOMOS?

domingo, 10 de abril de 2016

Não paro de pensar

Hoje foi o quarto dia de picas. Amanhã é a primeira ecografia de monitorização e estou cheia de medo. Porquê o medo? Porque me sinto normal. Tão normal que até dá medo! Com tantas hormonas já não era para sentir qualquer coisa? Não sinto a barriga inchada, nem pontadinhas no fundo da barriga, nada. Nadica de nada! Parece até que os meus ovários são imunes às picas. Daí o medo... medo de chegar lá e ficar a saber que os ovários não estão a responder devidamente.
Não paro de pensar no desfecho da fiv anterior!
Não paro de pensar que não vou ter óvulos suficientes para puncionar!
Não paro de pensar que eles fecundam, mas fecundam mal!
Não paro de pensar que se calhar não tenho óvulos bons!
Não paro de pensar que a endometriose está a aumentar e pode estragar tudo!
Não paro de pensar que já devia ter sintomas da estimulação e não tenho!
Não paro de pensar que as taxas de sucesso são baixas!
Não paro de pensar que se este tratamento não resultar, não tenho condições financeiras para fazer outro!
Não paro de pensar que o meu corpo está estragado e defeituoso!
Não paro de pensar que estou impedida de realizar o sonho da minha vida!
NÃO PARO DE PENSAR QUE NÃO DEVIA PENSAR!
E não paro de pensar que não sei como não pensar...


Yes, I'm crazy 😞

sexta-feira, 8 de abril de 2016

As agulhas e Eu

Depois de ler alguns testemunhos positivos e alguns estudos que comprovam a eficácia da medicina tradicional chinesa na fertilidade, decidi começar a fazer acupuntura na clínica Dr. Domingos Silva. Hoje fiz a minha terceira sessão.
Custa-me a perceber como é que espetar agulhas no corpo ajuda a combater doenças mas pronto. Parece que as agulhas estimulam pontos energéticos, os quais estão associados a determinados órgãos.
Quanto ao ser indolor, bem... não sendo algo doloroso, também não se pode dizer que seja indolor. Algumas agulhas quase nem se sentem, outras sente-se bem a picada mas nada por aí além. Por vezes uma ou outra dá uma espécie de choque que dura 1 ou 2 segundos. "Mas Mia, já não estás farta de agulhas?", perguntam vocês. Oh pá, digamos que as agulhas e eu já temos uma relação íntima, percebem? Tipo, reclamo mas ando sempre atrás delas.
Cheguei a sugerir ao marido fazer acupuntura comigo.
"Hmmm... sabes que as agulhas e eu...", respondeu com aquele ar de "Não me peças isso por favor!"
Pussy! 😑

Por falar em agulhas, hoje foi o meu segundo dia de picas. Não, não estou a falar das picas chinesas. Estou a falar das picas de Gonal-f, que por acaso é bem mais prático que o menopur, em que temos que misturar o pó com o líquido e aspirar as doses certas na seringa. Este já vem preparado numa prática caneta. É só regular a dose que queremos e aplicar a agulha. É tão simples que eu até fiquei a olhar para a caneta como um burro a olhar para um palácio! Sei lá, achei que aquilo era muito à frente.
"Dá cá isso." O marido pega na caneta e começa a prepara-la como se já fizesse aquilo à anos.
"Uau! Tu percebes disto.", elogiei.
"Não percebes nada de novas tecnologias hahaha!" 😅

quinta-feira, 7 de abril de 2016

2ª FIV

E finalmente o Hellboy apareceu na terça-feira à noite. "Cá estás tu! Sempre a ameaçar, a ameaçar e nunca mais vinhas. Cobarde!"
Ontem de manhã fomos à clínica para por tudo a andar.
Entramos no consultório do Dr. J. e ele muito bem disposto e sorridente pergunta: "Então, como tem passado? Preparada para a luta?" Respondi um tímido "Sim". Sei lá se estou preparada. Estou é cheia de medo!
"Ora vamos então fazer ecografia." Ecografia? Com "isto tudo" aqui no meio. Que vergonha 😓
"Não se preocupe. O Dr. está mais que habituado a fazer ecografias nestes dias. Esteja à vontade.", tranquilizou-me a assistente. Quando o Dr. introduz a sonda sinto uma grande quantidade de sangue a sair. "Eh lá!", exclamou o Dr. J. Ah pois! O Hellboy não brinca em serviço! É pior que uma cascata!


Não se viram endometriomas na ecografia (ainda bem) mas pelos valores do CA125 e pelo incómodo que eu senti sempre que mexia a sonda, a diabólica está lá, tal como eu temia. O Dr. J. disse que o ideal seria fazer o protocolo longo com agonista para bloquear a atividade da endometriose mas como fiz isso na última FIV no CHAA e correu mal, ele quer fazer o protocolo curto com antagonista.
Relativamente ao valor da anti-mulleriana que desta vez deu um valor muito mais alto, ele não se mostrou surpreendido. Disse que já esperava isso, uma vez que o primeiro valor não era coerente com os folículos antrais. Agora sim, este valor de 4.8 já condiz com a contagem de folículos antrais. A explicação, segundo ele, está mesmo na técnica dos laboratórios.
Em princípio será uma FIV, visto que a bicharada do marido está boa de saúde. Mas se por algum motivo, na punção se recrutarem menos ovócitos do que se espera, como da última vez, fazemos ICSI.

07/04 Gonal-f 150 UI
08/04 Gonal-f 150 UI
09/04 Gonal-f 150 UI
10/04 Gonal-f 150 UI
11/04 1ª Eco


Hoje é a primeira pica. Segunda-feira faço a primeira monitorização e depois logo se vê se é para alterar ou manter a dose.
Aiii que ansiedade! Cá estou eu a começar tudo de novo. Como será que vai correr desta vez? Como é que o meu corpo se vai portar? Será que a endometriose vai atrapalhar tudo? 😓

domingo, 3 de abril de 2016

3 anos

E assim se passaram 3 anos desde que comecei a "trabalhar" no meu projeto.
3 anos com muitos médicos
3 anos com muitos exames, análises e cirurgias.
3 anos de tratamentos e muitos medicamentos
3 anos de dor
3 anos de espera...

Deixei o relatório da histeroscopia e cópia das análises na clínica como o Dr. J. pediu. Não ligou, por isso é sinal que está tudo ok para o tratamento.
Agora é só aguardar mais uma visita do Hellboy.
Depois da FIV os meus ciclos mararam! O primeiro foi de 35 dias, o segundo de 31 dias e o terceiro de 32. Hoje estou no 30° dia do ciclo por isso durante esta semana deverá aparecer. Espero eu! Até já estou a sentir as típicas moínhas pré-Hellboy.

Despacha-te Hellboy! Se é para apareceres e é então despacha-te e não me faças perder mais tempo! Já me causaste danos que cheguem!

Consulta CGR Alberto Barros

Estava arrasada e sem saber o que fazer. Estava sem esperança! Se não dá para puncionar um ovário, por sinal aquele que responde melhor à indução, as hipóteses são muito baixas.
O marido animou-me e convenceu-me a arriscar um tratamento no privado. Conversamos e decidimos marcar nova consulta na clínica do Prof. Alberto Barros. Já tinhamos o resultado do espermograma e dos cariótipos com resultado normal. Mas antes de fazer a histeroscopia quis mostrar o relatório da primeira FIV e contar-lhe as novidades da punção, que afinal não eram folículos vazios mas sim um ovário escondido que não se permite puncionar.
Depois de me ouvir, o Dr. J. disse que embora não me podesse garantir que não voltasse a acontecer o mesmo, achava difícil não conseguirem faze-lo, pois já contam com muitos anos de punções naquela clínica. Além disso, não se recordava de ver um ovário assim com tão má posição na ecografia anterior. De qualquer forma, para confirmar pediu para fazer nova eco.
"Os ovários estão mesmo aqui à mão de semear!", exclamou enquanto fazia a eco. "E... olhe, um ovário está bom. E o outro está excelente! Da última vez apontei 8 + 4 folículos antrais mas agora estou aqui a ver mais alguns. Essa anti-mulleriana de certeza que vai dar um resultado mais alto."
"Isso é possível??", perguntei.
"É." Nice ☺

Ok. Estava no 5° dia do ciclo. Combinamos tudo para iniciar o tratamento no ciclo seguinte. Propôs um protocolo curto com antagonista e deu-me todas as informações necessárias. Pediu para deixar cópia do relatório da histeroscopia e das análises, incluindo anti-mulleriana e CA125, assim que estivessem prontas e ligar para a clínica assim que viesse a menstruação para ir buscar as receitas da medicação.

☆Histeroscopia normal. Yupiiii 😃
☆Anti-mulleriana 4.8 ng/mL 34.27 pmol/L wooooowwww! Estou mais fértil??
☆CA125 75 Ups! 😕

Como é que a anti-mulleriana aumentou tanto em pouco mais de meio ano?? Ele bem disse que achava que ia aumentar. Mas assim tanto??
E o CA125? Será que vai atrapalhar?

segunda-feira, 28 de março de 2016

Consulta pós-FIV

Aos poucos fui "acordando" para o mundo. A tristeza e todos os outros sentimentos negativos continuavam cá mas fui recuperando a capacidade de reação.
Eu e o marido decidimos marcar uma consulta numa clínica privada. Ouvir outra opinião, uma outra avaliação do nosso caso, saber quais as probabilidades. O Centro de Genética e Reprodução Prof. Alberto Barros foi a nossa escolha.
Depois de contar o nosso historial e mostrar todos os exames, o Dr. J. disse-nos que deviamos mesmo tentar um segundo tratamento. Apesar da endometriose e do desfecho da primeira fiv, tinhamos também condições que jogavam muito a nosso favor, nomeadamente o facto de sermos jovens, de eu ter uma reserva ovárica bem razoável e do espermograma estar normal. Disse que o facto de só terem puncionado três ovócitos na primeira fiv, não significava que ía acontecer novamente. Pelo contrário, essa história dos folículos vazios, são situações raras e isoladas e o mais provável é que a situação não se repita num próximo tratamento. Quanto à fecundação dos ovócitos por dois espermatozóides disse que nesse caso talvez fosse melhor fazer ICSI, mas que iria depender da quantidade de ovócitos recrutados na punção. Além disso, precisaria de ver o relatório da FIV para uma melhor avaliação. "Aqui ou no CHAA, acho que devem mesmo insistir num novo tratamento. Seria uma pena se não o fizessem".
Para o caso de querermos avançar com o tratamento lá, pediu os seguintes exames/análises:

Histeroscopia
Cariótipos de linfócitos de alta resolução de ambos
Repetir a análise à anti-mulleriana
Repetir espermograma
Relatório da primeira FIV

Um mês depois, fomos finalmente à consulta pós FIV no CHAA. Estava muito curiosa em saber o que nos iam dizer e ía com um monte de questões na minha cabeça.
"Está aqui o vosso relatório. Querem colocar alguma questão?", perguntou o Dr. R.
"Sim! Gostava de saber o que aconteceu ao certo na minha punção e se há alguma explicação para isso", perguntei.
"Não faço ideia. Não fui eu que lhe fiz a punção.", responde no seu habitual tom de voz monocórdico e expressão apática.
"Foi, foi!", lembra a enfermeira.
"Fui? Ah sim, pois fui. Já me lembro. O que aconteceu foi que o seu ovário direito estava muito puxado para trás, atrás do intestino, e ao tentar puncionar ele fugia mais para trás. Achamos que era muito arriscado e decidimos não puncionar." WTF!! Então e aquela história dos folículos vazios?? Aparvalhada com a resposta, perguntei se numa próxima punção iria voltar a acontecer.
"Sim, o mais provável é voltar a acontecer porque o óvario não vai mudar de sítio." Silêncio. "A não ser que a sua endometriose evolua. Nesse caso, o óvario ficaria mais fixo. Por um lado seria mau, mas por outro podia permitir a punção." Aquela parte em que achamos que pior não pode ser... Mais alguma coisa?
"E quanto ao protocolo num próximo tratamento? Seria o mesmo?", perguntei.
"Sim, à partida será igual. Longo com 3 meses de agonista antes da estimulação. Como o tratamento só será daqui a um ano, já vai ter mais idade, e por isso contamos que a sua resposta seja mais fraca. Mas ainda assim, vamos diminuir a dose do menopur por causa do risco de hiperestimulação... como desta vez teve uma hiperestimulação borderline, com um estradiol de 2800...". Ai tive? Isto é só novidades! 😮
"Resumindo", continuei. "O mais certo é não voltarem a puncionar o óvario direito. Esperam que daqui a 1 ano tenha uma resposta inferior mas mesmo assim querem baixar a dose. Então se neste tive três ovócitos, no próximo terei 2 ou 1! Pelo menos fazem ICSI, certo?"
"Não", responde o Dr. R. "Só faziamos ICSI se o espermograma estivesse mau ou se não houvesse fecundação."
"Pois, mas houve fecundação anormal, ou seja, é o mesmo que não haver!"
"3 não é um número estatisticamente significativo por isso não podemos dizer que numa próxima vez irá acontecer o mesmo. Só os referenciariamos para ICSI se houvesse ausência total de fecundação".
Estão a imaginar o lume que eu tive no peito? 😠😠😠
"Não sei se querem tentar novamente... a decisão é vossa." Mesmo? Obrigadinha pela ajuda e pelo empenho! 😲
O marido, não se manifestou. Mas estar 1 ano à espera para puncionar 2 ou 3 óvulos e depois levar com a notícia de que tiveram que ser descartados por fecundarem mal não estava nos meus planos.

Saí de lá completamente revoltada e com o peito a queimar!
Era a história da aspirina. Era a punção com folículos vazios que agora já era por causa da posição do ovário. Era o esquecimento deles, as informações erradas. Era a não ICSI mesmo com o historial anterior. Oh pá...

Não havia mais esperança, o único centro de PMA que me poderia ajudar c*g** para mim. E agora?

Depressão

Os dias que se seguiram foram profundamente angustiantes. A profunda tristeza não me permitia reagir. Sentia nojo de mim própria, vergonha!
Quando me olhava ao espelho, não via uma mulher mas antes uma aberração! Um corpo disfuncional, incapacitado e inútil... Odiava-me!

As poucas pessoas que sabiam do tratamento, como o marido e a minha mãe, achavam exagerado da minha parte reagir assim. Não entendiam o que eu estava a sentir. Agiam como se nada fosse, diziam piadas, divertiam-se e conversavam sobre assuntos inúteis.
O marido, embora envolvido nisto, não sente as coisas da mesma forma que eu. Para ele, se resultar ótimo, se não resultar paciência. Aliás, acho (tenho a certeza) que ele não vê isto como um tratamento nosso mas sim como um tratamento meu, pois como ele próprio diz "eu não tenho problema nenhum". Percebi a "envolvência" dele quando reclamou por ter que fazer espermogramas, quando reclamou da falta de privacidade num tratamento destes, quando o lembrei do dia e hora da transferência dos embriões e ele perguntou surpreendido "mas eu também preciso de ir?". Sim! É verdade que o problema é meu e não dele. E sim, é verdade que estes tratamentos nos expõem mais do que aquilo que desejavamos. Mas se ele quer um filho e, segundo ele, só quer se for comigo, então lamento, mas passa a ser um problema de ambos, do casal! E entendo que ir à "salinha" colher os próprios fluídos num frasco para ir entregar à bióloga não seja propriamente confortável. Mas, ei! Eu tenho constantemente pessoas a mexer e a olhar para o meu meio das minhas pernas!!! Seja em ecografias, exames, cirurgias, punções, transferências! Vamos mesmo falar de exposição e falta de privacidade? A sério? Pelo menos a única coisinha "chata" que ele tem que fazer é numa sala privada, onde ninguém o vê nem ninguém lhe toca. Nem sequer tem que se injetar com carradas de hormonas. E sim, a transferência de embriões é um procedimento feito em mim, no meu corpo. Mas não é óbvio que ele tem de estar presente? Afinal de contas é do NOSSO embrião que estamos a falar, da mistura dos NOSSOS GENES!
E a minha mãe... adoro-a! Do fundo do meu coração! Devo-lhe muito na vida, já para não dizer que lhe devo a minha própria vida. Mas... ela não me entende mesmo. Na sua ingenuidade parece que goza com a situação. Adora lembrar-me que engravidou sem querer e sem saber bem como, tal como todas as mulheres da família. Ri-se. Adora contar-me das gravidezes dos outros e dos bebés dos outros. Disse-me coisas frias e rudes quando eu estava em modo "deprê", roubando-me o direito de fazer o luto da situação. Diz a rir que se eu nunca engravidar "olha fixe! Ficamos os três! Eheheh!". Fixe???

Senti que estava sozinha nisto. Incompreendida e desamparada. Ninguém sentia a minha dor.
A partir daí, decidi que seria mais fácil fingir que estava tudo bem e guardar o sofrimento só para mim. Revoltar-me, deprimir e chorar só em privado. Em público colocava a "máscara".


sábado, 26 de março de 2016

Pesadelo

Foi-nos dito que se houvesse fecundação teríamos que estar no CHAA segunda-feira às 12 horas para a transferência dos embriões. Caso não houvesse fecundação ligavam-nos no sábado a dizer para não irmos. Se não recebessemos nenhum telefonema era sinal que pelo menos 1 tinha fecundado.

Vocês conseguem imaginar a enorme ansiedade que isso gera? Dormi mal. Tive sonhos muito intensos e confusos, acordei várias vezes durante a noite. O ar parecia que não chegava aos pulmões. O coração, esse estava acelerado. Não queria estar perto do telemóvel. Até quando o telemóvel do marido tocava parecia que estava prestes a ter um ataque cardíaco! O coração disparava, ficava tonta e deixava de ver durante uns segundos. Foram horas muito difíceis.

A manhã passou. Estavamos no início da tarde e eu comecei a ficar mais calma. Sabia que a tal chamada seria até essa hora. Comecei então a ganhar alguma esperança... mas não fiquei sossegada. Ok houve fecundação. Mas será que foi 1? 2? Todos? E o desenvolvimento? Estava bom? Não sabia nada de nada e isso dava cabo de mim. Quem me conhece sabe que o facto de não saber das coisas ao pormenor me destrói. Sentia-me perdida.

Finalmente chegou a segunda-feira! À hora marcada lá estavamos nós. Estava ansiosa mas feliz por ir receber o meu bebé ou os meus bebés.
Chamam os nossos nomes e entramos no ganinete. Estava a Dra. S., a enfermeira e a bióloga.
"Temos boas e más notícias", disse a bióloga. "Todos os ovócitos fecundaram, o que é ótimo. É sinal que eles se entendem. Dois deles até fecundaram por mais que um espermatozóide! Mas esses tiveram que ser descartados porque são inviáveis. O terceiro é um embrião muito mau, com um desenvolvimento muito lento. Tem 50% de fragmentação e apenas 4 células. Era suposto ter 8 células neste momento. Como estes embriões raramente implantam, normalmente nem fazemos a transferência e até fizemos esse apontamento na vossa ficha." E mostra-me a nossa ficha onde se lia em letras grandes "SEM TRANSFERÊNCIA".
E a Dra. S. acrescenta "mas claro que a decisão de transferir é vossa. Contudo, pensem bem porque neste hospital nunca houve nenhum caso em que tivesse ocorrido gravidez com um embrião destes. Se transferirem conta como tentativa e por isso têm que esperar 1 ano para um novo tratamento porque voltam para o início da lista de espera. Se não transferirem, não conta como tentativa porque é um tratamento cancelado. E nesse caso, entram para uma lista especial e daqui a 3 meses podem fazer um novo tratamento. Pensem bem... A Mia é jovem e nós gostavamos de lhe fazer um novo tratamento."
E a parte da boa notícia?? É que não percebi! A sério que acharam que o facto de fecundarem por 2 espermatozóides era uma boa notícia?? Uau que fixe! Isto fecunda tão bem que até conseguem entrar dois espermatozóides no mesmo óvulo! A seguir vão para o lixo mas essa parte não interessa nada! 😑
Ouvimos tudo em silêncio. Enquanto as ouvia só tive vontade de morrer. Perguntei qual era a probabilidade de resultar, ao que me responderam 1 ou 2%. A bióloga acrescentou que tinha tido um único caso de sucesso com um embrião destes, não ali, mas numa clínica privada onde também trabalhava.
Deram-nos um tempo para pensar. Eu tinha esperança que aquilo fosse mais um dos muitos pesadelos e que ía acordar em breve.
Quando consegui organizar os pensamentos, decidi que queria fazer a transferência. Já que eu estava sempre no grupo dos raros para as coisas más, podia também estar no grupo dos raros para uma coisa boa. O marido tentou chamar-me à razão. Mas aceitou a minha decisão.
A transferência foi feita.

Recomendações: continuar o progeffik de 8 em 8 horas até ao dia do beta hcg; repouso relativo nos três dias seguintes.

Segui as recomendações à risca. Foram dias angustiantes, sempre atenta a qualquer sinal do meu corpo. Tentei agarrar-me aquele 1 ou 2%, ora tinha esperança, ora não tinha. Mergulhei na net, li todos os estudos que encontrava, todos os testemunhos! Apontava todos os sintomas que tinha, por muito insignificantes que podessem ser.
Lembro-me de ter um pesadelo em que estava rodeada de sangue. Acordei sobressaltada e a transpirar. Fui ao wc e vi que o papel higiénico tinha um fiozinho mais escuro. Estava no dia 11 após a transferência. Percebi que tinha terminado ali. No dia seguinte, sangue vivo e em abundância.

Não queria ver nem ouvir ninguém. Não queria saber como estava o mundo lá fora. Não queria existir. Desejava intensamente que o meu coração parasse de bater. Dormir era o melhor. Enquanto dormia não sentia... e tinha esperança que algo acontecesse e não voltasse a acordar mais.