5 semanas e 2 dias.
Uma segunda-feira banal, manhã de trabalho normal... Até que durante o almoço e sem nada o fazer prever senti uma dor no fundo da barriga que irradiava para as costas. Imediatamente tive um mau pressentimento.
Tentei parecer calma para não preocupar ninguém. Mas mal tive oportunidade de estar sozinha fui ver o que se passava por baixo do vestido que usava (que por acaso era preto) e vi o que mais temia: sangue! Era muito! Escorria pelas pernas.
Não entrei em pânico. Poderia ter entrado se estivesse com medo da possibilidade de os ter perdido. Pelo contrário, com aquela quantidade de sangue eu tive a certeza que os tinha perdido.
O marido levou-me imediatamente à urgência do hospital sem dizer uma palavra. Eu chorava em silêncio. Senti-me miserável, um falhanço! Durante uma semana a minha vida ganhou cor e de repente tudo tinha acabado.
Chegamos ao hospital e o marido dirigiu-se muito rápido à menina da receção enquanto eu fiquei sentada. Explicou a situação e pediu que fosse vista por um médico o mais rápido possível. A tal menina muito calmamente e com um sorriso parvo estampado na cara começou a fazer várias perguntas. O marido sem paciência, enervou-se e disse que aquelas perguntas não interessavam para nada e mandou-a despachar-se com a voz alterada. A rapariga perdeu logo o sorriso parvo e mandou-nos logo entrar. Não fosse a situação em que estava e até me dava vontade de rir.
Antes de ser atendida pelo médico fui ao WC e mais uma vez só vi sangue por todo o lado! Depois daquilo não havia mais força para lutar. Tinha que aceitar, embora ainda não soubesse como nem quando.
Entrei para o consultório e o médico (aparentemente muito jovem) fez várias perguntas:
- Data da última menstruação
- Se fumava, consumia álcool ou drogas
- Se a gravidez tinha sido planeada
- Blá blá blá
Mas aquilo interessava? Não era melhor observar-me primeiro e fazer as perguntas depois?
Respondi-lhe às perguntas com um tom de voz impaciente. Só queria sair dali o mais rápido possível, fazer o que tinha de ser feito e tentar virar a página.
O Dr. Novinho lá deve ter reparado na minha impaciência e mandou-me despir para me observar.
Parece que tinha o colo do útero fechado e que a hemorragia tinha parado. Fez eco para ver o que se passava por ali e vimos as duas manchinhas pretas, mas desta vez com uns tracinhos brancos no meio.
Que significava aquilo??
"Estão ali dois sacos gestacionais com o tamanho adequado para o tempo gestacional. Aquilo no meio é a vesícula vitelina e já se vislumbra um esboço de embrião. O colo do útero está fechado e a hemorragia está praticamente parada.", disse o Dr. Novinho. "Está tudo bem."
Estava tudo bem? Como assim?? Os embriões continuavam ali?? Mas então e o sangue? De onde veio tanto sangue? Como é que os embriões se seguraram? Mas como sabemos que ainda estão vivos? Podem ter parado de evoluir naquele dia!
Não sei bem que perguntas lhe fiz! Estava confusa! Feliz e assustada ao mesmo tempo.
"Não há nenhum sinal de descolamento de placenta e isso é bom sinal. Uma grande parte das grávidas tem sangramentos no início da gestação. Em metade delas corre tudo normalmente e não se chega a saber a causa desses sangramentos, outra metade corre mal."
Lá fomos para casa cheios de esperança novamente mas também com muito receio. O médico alertou que o sangramento não ia desaparecer de imediato e que isso era normal. Disse que ainda ia estar uns dias com pequenas perdas que seriam os restos mas para não me preocupar.
Nem acreditava que estava a voltar para casa com os meus bebés na barriga! 😍
Coitado do Dr. Novinho. Agora pensando bem, se calhar fui um bocadinho arrogante. E ele até foi simpático e atencioso.
Passei o resto da semana em repouso. Manti o estrofem e o progeffik e suspendi o cartia por uma semana. Sempre que ia ao WC via um restinho de sangue escuro mas aguado no papel mas nada de sangue vermelho em grande quantidade. Estava sempre a pensar "será que ainda estou grávida?".
Durante essa semana surgiram alguns sintomas:
- tensão mamária
- ligeiros enjoos
Ótimo! Os sintomas são um bom sinal! Ainda bem que apareceram para me acalmar.
P. S.: Dr. Novinho, peço desculpa por ter sido um pouco antipática. Muito obrigada por ter acalmado os nossos corações.
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