segunda-feira, 28 de março de 2016

Depressão

Os dias que se seguiram foram profundamente angustiantes. A profunda tristeza não me permitia reagir. Sentia nojo de mim própria, vergonha!
Quando me olhava ao espelho, não via uma mulher mas antes uma aberração! Um corpo disfuncional, incapacitado e inútil... Odiava-me!

As poucas pessoas que sabiam do tratamento, como o marido e a minha mãe, achavam exagerado da minha parte reagir assim. Não entendiam o que eu estava a sentir. Agiam como se nada fosse, diziam piadas, divertiam-se e conversavam sobre assuntos inúteis.
O marido, embora envolvido nisto, não sente as coisas da mesma forma que eu. Para ele, se resultar ótimo, se não resultar paciência. Aliás, acho (tenho a certeza) que ele não vê isto como um tratamento nosso mas sim como um tratamento meu, pois como ele próprio diz "eu não tenho problema nenhum". Percebi a "envolvência" dele quando reclamou por ter que fazer espermogramas, quando reclamou da falta de privacidade num tratamento destes, quando o lembrei do dia e hora da transferência dos embriões e ele perguntou surpreendido "mas eu também preciso de ir?". Sim! É verdade que o problema é meu e não dele. E sim, é verdade que estes tratamentos nos expõem mais do que aquilo que desejavamos. Mas se ele quer um filho e, segundo ele, só quer se for comigo, então lamento, mas passa a ser um problema de ambos, do casal! E entendo que ir à "salinha" colher os próprios fluídos num frasco para ir entregar à bióloga não seja propriamente confortável. Mas, ei! Eu tenho constantemente pessoas a mexer e a olhar para o meu meio das minhas pernas!!! Seja em ecografias, exames, cirurgias, punções, transferências! Vamos mesmo falar de exposição e falta de privacidade? A sério? Pelo menos a única coisinha "chata" que ele tem que fazer é numa sala privada, onde ninguém o vê nem ninguém lhe toca. Nem sequer tem que se injetar com carradas de hormonas. E sim, a transferência de embriões é um procedimento feito em mim, no meu corpo. Mas não é óbvio que ele tem de estar presente? Afinal de contas é do NOSSO embrião que estamos a falar, da mistura dos NOSSOS GENES!
E a minha mãe... adoro-a! Do fundo do meu coração! Devo-lhe muito na vida, já para não dizer que lhe devo a minha própria vida. Mas... ela não me entende mesmo. Na sua ingenuidade parece que goza com a situação. Adora lembrar-me que engravidou sem querer e sem saber bem como, tal como todas as mulheres da família. Ri-se. Adora contar-me das gravidezes dos outros e dos bebés dos outros. Disse-me coisas frias e rudes quando eu estava em modo "deprê", roubando-me o direito de fazer o luto da situação. Diz a rir que se eu nunca engravidar "olha fixe! Ficamos os três! Eheheh!". Fixe???

Senti que estava sozinha nisto. Incompreendida e desamparada. Ninguém sentia a minha dor.
A partir daí, decidi que seria mais fácil fingir que estava tudo bem e guardar o sofrimento só para mim. Revoltar-me, deprimir e chorar só em privado. Em público colocava a "máscara".


2 comentários:

  1. Mia ... Não podemos nem devemos passar por isto tudo sozinhas. O problema como tu dizes e bem, é de ambos. O teu marido tem de ser o teu apoio, tens de exigir isso dele. Acredito que ele te apoie em tudo mas não podes de todo viver este sentimento sozinha, já é duro o suficiente :(
    Sabes eu nunca escondi nada das minhas amigas e familia mais próxima. E acho que apesar de ter recebido o meu negativo apenas à 1 semana atrás, acho que todo o apoio, carinho e força que recebi ajudaram-me tanto mas tanto a sair da fossa, arrebitar e ganhar forças para o próximo TTT.
    Mas compreendo-te mito bem Mia. Estamos juntas*

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  2. Mikas, querida, também receste o teu negativo à pouco tempo :( lamento muito. Ainda bem que tens o apoio e o carinho dos amigos e da família, é sem dúvida muito importante para recarregar baterias para seguir em frente!
    O meu marido apoia-me muito, felizmente, e até foi ele que me deu forças para o atual tratamento. Simplesmente acho que vê, ou via, isto de uma forma muito ingénua. Sem noção da realidade e da complexidade da coisa. Penso que ele achava que isto ia ser mais simples e com resultados garantidos, mas infelizmente as coisas não funcionam assim. Fiz-lhe ver as coisas e ele arrependeu-se da postura e redimiu-se. Podera... também dei-lhe uma descasca ahahah coitado.
    Quanto a amigas já não posso dizer o mesmo. Algumas sabem que preciso de fazer uma fiv mas não sabem se já fiz ou se ainda vou fazer, outras nem isso. Mas mesmo as que sabem estão muito longe de entender o que realmente isto é. Ainda andam na fase do engate e dos copos e este tema de fivs e endometriose não lhes diz grante coisa. Mas tudo bem, não as critico. Estão numa fase diferente da minha :)

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